Neste domingo, 20 de novembro, é comemorado o Dia da Consciência Negra, uma homenagem a Zumbi dos Palmares, líder quilombola que dedicou a sua vida combatendo a escravatura no período do Brasil Colonial. A data simboliza a luta e a resistência por liberdade e igualdade racial.
Um dia para muita reflexão, mas de pouca celebração. Os números mostram que apesar do Brasil ser o país com a maior população negra fora do continente Africano e a segunda maior do mundo, atrás apenas da Nigéria, não é verificado um mesmo patamar de respeito à diversidade e herança cultural que devem fazer parte de uma sociedade democrática.
Em pleno século XXI o mercado de trabalho ainda pratica ao menos três tipos de discriminações contra os negros e negras: a ocupacional, salarial e de gênero.
Desigualdade no trabalho
Pesquisa divulgada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que apesar da redução das desigualdades raciais vivenciadas ao longo da última década e meia, com uma relativa melhora do mercado de trabalho para a população negra, a mudança ficou longe de promover a equidade de valorização do trabalho exercido pelos negros em relação aos não negros. E a tendência agora é uma reviravolta, com passos atrás a partir desse governo. Em 2014, o homem negro recebia 71,6% da remuneração do não-negro, enquanto a mulher negra recebia 50,5%, metade da remuneração do homem não-negro.
A diferença de salário entre trabalhadores brancos e negros no país é de R$ 611,35. As informações são de uma pesquisa do Ministério do Trabalho, realizada em dezembro de 2014, a mais recente sobre o tema.
As taxas de desemprego entre os negros são mais elevadas do que em outros segmentos. Segundo o estudo do Dieese, historicamente, os negros convivem com grandes patamares de desemprego, mesmo em regiões onde sua presença é expressiva, como Salvador, Fortaleza e Distrito Federal. E esse número torna-se ainda maior quando se trata das mulheres negras.
Na luta por acabar com essas desigualdades no mundo do trabalho, muitas ações são feitas pelos sindicatos. Um desses momentos de luta são as negociações coletivas de trabalho que buscam conquistar cláusulas nesses acordos que dizem respeito à questão do (a) negro (a) trabalhador (a). A atenção à conquista de garantias relacionadas à igualdade de raça/cor nos acordos e convenções coletivas de trabalho está crescendo. Entre 2006 a 2014, nota-se um crescimento 66,67% em cláusulas de combate à discriminação; igualdade de oportunidade; isonomia salarial; saúde e ações afirmativas. O Dieese entende que são instrumentos importantes para garantir avanços na luta contra as desigualdades.
Diante desses dados, é fundamental a intensificação da luta contra as desigualdades raciais.
Mulheres negras são duplamente discriminadas
Pesquisas confirmam que a inserção da mulher negra no mercado de trabalho é caracterizada por ingresso precoce e tem como porta de entrada o trabalho doméstico, onde 75% não têm carteira assinada.
É uma condição de extrema desvantagem em relação às demais mulheres brancas e aos homens, brancos e negros.
As mulheres negras trabalham em situações mais precárias, têm menos anos de estudo, menos possibilidades de carreira, têm os rendimentos mais baixos e as mais altas taxas de desemprego, são as últimas a serem contratadas e as primeiras a serem demitidas. Situação que comprova o quão violento e perverso é a situação da mulher negra em nosso país.
Pesquisa elaborada pelo Instituto Ethos, em 2010, mostra que a presença de mulheres negras nos cargos de comando das empresas é quase nula: apenas 0,5% está no executivo, 2% na gerência, 5% na supervisão e 9% no quadro funcional.