50 anos do golpe militar: a luta é por justiça e reparação

Passados 50 anos do golpe militar, que a partir de primeiro de abril de 1964 mergulhou o país em duas longas décadas de ditadura, o povo brasileiro ainda luta por justiça e reparação. Somente em 2012 foi instalada uma Comissão Nacional da Verdade (CNV) para esclarecer os crimes da ditadura. Crimes esses que continuam impunes. “Não fomos capazes até agora de punir nenhum agente que em nome do Estado matou, torturou, ocultou cadáveres. Pagamos caro por isso. Temos ainda hoje uma polícia que mata e tortura em nome do Estado”, lamenta Expedito Solaney, secretário nacional de Políticas Sociais da CUT. Ele é um dos integrantes do Grupo de Trabalho das Centrais Sindicais junto à CNV e também coordena a Comissão Nacional Memória, Verdade e Justiça da CUT.

A classe trabalhadora e suas organizações foram o principal alvo da ditadura militar, desde o início do golpe, em março de 1964. Os trabalhadores do campo e da cidade e seus sindicatos eram a base de sustentação do presidente João Goulart, deposto pelos militares, com apoio dos Estados Unidos, da mídia, dos empresários e de setores conservadores do país, que não aceitavam as reforma anunciadas por seu governo, o qual tachavam de sindicalista. Na Petrobrás, assim como em outras estatais e empresas, trabalhadores foram perseguidos, alguns torturados e desaparecidos. Os sindicatos sofreram intervenções e as lideranças perderam seus direitos civis e foram violentamente reprimidas. No intuito de manter viva a memória desse tenebroso período da nossa história para que nunca mais se repita, a FUP lançou nesta segunda-feira, 31 de março, uma edição especial, com matérias, artigos e entrevistas sobre o impacto do golpe de 1964 na vida dos trabalhadores.

Fonte: Imprensa FUP

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José Romeu Nadolny*, um petroleiro vítima da ditadura

“Entrei na Petrobras em 1º de abril de 1959 para trabalhar na Usina do Xisto. Fui expurgado pelos militares em 1964. Com a anistia, era pra eu ter voltado em 79, mas isso não aconteceu. Ficamos seis anos sem ter o direito. Só em 1986 eu regressei e fiquei até 30 de setembro de 1990.

Fui delegado sindical até o golpe de 1º de abril. Porque o golpe não foi 31 de março, ocorreu em 1º de abril. Atrasaram um dia para dizer que foi em 31 de março, porque esse golpe foi mentiroso desde o dia em que aconteceu. Em 20 de julho de 1964 fui fazer um serviço de nivelamento, quando eu voltei ao meio dia me deram a carta de demissão.

Os sindicatos foram muito perseguidos pelos milicos. Como eu era delegado sindical, eles (os militares) nos prendiam e faziam interrogatórios. Faziam tudo o que era tipo de ameaça, inclusive de nos trancar nos navios prisões que estavam em Paranaguá. Mesmo depois que eu estava fora da Petrobrás, quando eu passava perto da delegacia antiga, os militares falavam para gente que se saísse a pena de morte nós iríamos ser fuzilados para dar exemplo para a cidade”.

*Sr. Nadolny reside em São Mateus do Sul e vai depor à Comissão da Verdade, que investiga os crimes dos militares. Depoimento acima foi colhido em entrevista feita para o Jornal do Sindipetro.