Envolvido nos escândalos de propinas na Petrobrás, Paulo Roberto da Costa foi nomeado por indicação do Partido Progressista (PP) quando a sigla era presidida por primo de Aécio Neves
Apontado como o operador de um esquema de corrupção que envolveria o pagamento de propinas por empresas a partidos políticos da base aliada do Governo, o ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa aproveitou das regalias da delação premiada e prestou depoimento na Justiça Federal do Paraná.
Treze empreiteiras foram citadas nos depoimentos do ex-diretor da Petrobras e do doleiro Alberto Youssef como participantes do esquema. Entre elas, Camargo Corrêa, Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Mendes Júnior.
Em nota, a Petrobras reafirmou que é vítima e tem colaborado com as autoridades. O Partido dos Trabalhadores (PT) repudiou com veemência o que chamou de declarações caluniosas de Paulo Roberto e apresentou queixa-crime contra o ex-diretor por difamação. O PMDB e o Partido Progressista (PP) não quiseram se manifestar.
A Mendes Júnior e a OAS não se pronunciaram. As outras construtoras citadas negam ter cometido irregularidades.
Indicação Política
Costa disse que foi indicado pelo PP (Partido Progressista) para a diretoria de Abastecimento da empresa. Proibido pelo juiz Sérgio Moro de citar nomes de parlamentares ou autoridades que detivessem foro privilegiado, Costa citou apenas o nome de José Janene, ex-deputado, morto em 2010.
No entanto, Costa fez questão de afirmar que só conheceu Janene em 2004. É obvio que já conhecia outros membros do PP bem antes disso, afinal de contas não se recrutam participantes de esquemas de corrupção através de anúncios.
Um dos principais líderes do PP em 2004 era o senador Francisco Dornelles (RJ), que tornou-se presidente do partido a partir de 2007, ficando até 2103. Segundo o depoimento de Paulo Roberto, foi a partir de 2007 que passou a ter mais obras em refinarias, sua área de atuação, e quando o esquema teria produzido mais movimentação.
O fato do senador Dornelles ter sido o presidente do partido na época da indicação levanta sérias suspeitas. Se ainda é pouco para criminaliza-lo, no mínimo ele foi uma testemunha privilegiada de boa parte do que se passou neste período, nas conversas e reuniões partidárias.
Como senador e homem público, deve seu testemunho à CPI da Petrobras para explicar como foi o processo de aproximação de Paulo Roberto Costa com o PP, e descrever como se dava a relação do ex-diretor com o partido no período em que foi presidente da sigla.
Mas há problemas políticos no caminho, típicos da disputa eleitoral, para este depoimento acontecer.
Parentesco
O senador Dornelles é também primo do candidato a presidente da República pelo PSDB, Aécio Neves, para quem faz campanha no Rio de Janeiro, onde é também candidato a vice-governador de Luiz Fernando Pezão (PMDB), a disputar o segundo turno. Aliás, o próprio Dornelles assinou a nomeação do então jovem recém-formado Aécio Neves diretor da Caixa Econômica Federal quando foi Ministro da Fazenda de José Sarney em 1985, o que torna mais conturbado seu necessário testemunho em uma CPI em meio ao processo eleitoral.
Infelizmente, o juiz Sérgio Moro se contentou com a resposta, bem orientado por advogados da defesa, que incrimina apenas o ex-deputado morto e a citação da sigla partidária, sem perguntar como ocorreu o processo anterior de aproximação de Paulo Roberto com o PP, que desvendaria para o cidadão brasileiro como nascem esses esquemas de corrupção que cooptaram um engenheiro de carreira e concursado.
Em nome da transparência e do interesse público, se a Justiça Federal do Paraná deixou esta lacuna, a CPI precisa preenchê-la. Além da punição criminal de envolvidos, função de CPI é também aprimorar as instituições levando à criação de leis, normas e sistemas que evitem que tais esquemas se repitam. Conhecer a gênese e o funcionamento da engrenagem dos crimes de corrupção é tão importante como punir os responsáveis pelos ilícitos já praticados.
Outro ingrediente explosivo para o ambiente eleitoral é que Paulo Roberto Costa foi diretor da Gaspetro, subsidiária da Petrobras. Segundo seu próprio depoimento, as indicações para diretorias eram políticas desde que ele ingressou na Petrobras, em todos os governos, mas o juiz Moro também não fez perguntas sobre essas nomeações anteriores durante o depoimento. Naquele período, a Gaspetro realizou grandes obras com empreiteiras, como o gasoduto Brasil-Bolívia, e havia parcerias para construir termoelétricas a gás. O PP apoiou também o governo de FHC e indicou pessoas para cargos, inclusive o próprio Dornelles foi ministro do Desenvolvimento (1996-1998), e depois do Trabalho (1999-2002).
Outra solução para o cidadão ter conhecimento com transparência de como se deu a aproximação de Paulo Roberto Costa com o PP seria o próprio juiz Sérgio Moro fazer outro depoimento aberto ao conhecimento público com perguntas que tragam respostas a essas lacunas. Senão, o depoimento já tomado, e explorado eleitoralmente, com versões ao gosto de marqueteiros, e de editorialistas com suas visões subjetivas dos fatos e suas preferências políticas, se tornará peça histórica de interferência indevida no processo eleitoral, qualquer que seja o resultado das urnas.
Detalhe importante que ainda será tratado devidamente: já há colunistas, como Paulo Moreira Leite, que diz ter apurado nos meios jurídicos associando a divulgação anormal do depoimento de Costa a uma possível nomeação do juiz Sérgio Moro a ministro do STF, caso Aécio Neves seja eleito.
Com informações da Rede Brasil Atual