“Para quem não viveu, convém contar. A quem já se esqueceu, quero lembrar”. Os versos de Thiago de Mello em seu poema “Noturno do Paraná do Ramos” foram escritos em 1980, ainda durante a ditadura militar. O poeta amazonense foi um dos milhares de presos políticos perseguidos pelo regime e exilados do país. Nesta quarta-feira, 01 de abril, o golpe que mergulhou o Brasil em duas longas décadas de ditadura militar completa 51 anos e os versos de Thiago de Mello nunca foram tão necessários e atuais.
Há duas semanas, no dia 15 de março, quando o país deveria comemorar os 30 anos de redemocratização, assistimos perplexos às manifestações de grupos extremistas da direita que levaram às ruas milhares de pessoas, com apoio da Rede Globo e de grande parte da mídia conservadora. O que a princípio seria um protesto contra a corrupção ganhou contornos fascistas, numa apologia ao golpismo, com pedidos de intervenção militar e manifestações de ódio contra partidos e ideologias de esquerda. “Embora as situações sejam diferentes, é necessário manter acesa a luz amarela. Herdeiros da concepção udenista repetem hoje os antecessores de ontem”, alerta o jornalista Maurício Dias.
Democracia e conquistas sociais em xeque
Hoje, assim como foi em 1964 e na conspiração golpista que levou Getúlio Vargas ao suicídio em 1954, o objetivo das elites é conter os avanços sociais e as conquistas da classe trabalhadora. O operariado e os camponeses foram a base de sustentação tanto do governo Jango, quanto de Getúlio, que por isso eram desqualificados pela mídia. “O presidente João Goulart era muito popular em 1964, muito mais que a presidenta Dilma é no atual momento. De cada dez brasileiros, apenas dois reprovavam o governo Jango”, lembra o cientista político Antônio Lassance, em artigo publicado esta semana na Agência Carta Maior.
“Quem acha o golpismo pequeno e o extremismo minúsculo se esquece de que eles jamais precisaram de maioria para prevalecer. Fossem os golpistas maioria, eles não precisariam de golpismo algum. Ganhariam eleições”, explica. “Um país que conhece minimamente sua própria História não deveria jamais admitir que manifestações comandadas por grupos explicitamente golpistas e extremistas sejam consideradas normais, democráticas e inofensivas. O desrespeito ao voto, ao devido processo legal e aos direitos humanos não é algo normal, não é nada democrático e está longe de ser inofensivo. Merece o mais ferrenho combate com as armas da crítica, antes que essa seja ameaçada pela crítica das armas”, afirma o cientista político.
Fonte: FUP