Cerca de 70 mil mulheres participaram da 5ª edição da Marcha das Margaridas, realizada nesta terça e quarta-feira (11 e 12), em Brasília-DF. Considerada a maior manifestação pelos direitos das mulheres no mundo, a Marcha acontece a cada dois anos e nesta edição teve o objetivo de apresentar uma pauta de reivindicações que atenda às necessidades das mulheres que vivem e trabalham no campo e se contrapor ao conservadorismo político atual, que pode levar ao retrocesso das conquistas históricas dos trabalhadores brasileiros.
A abertura aconteceu na noite de terça, no Estádio Nacional Mané Garrinha, e foi marcada pelo ritmo dos vários gritos de mulheres do campo, da floresta e das águas, que mostraram que os ideais de Margarida Alves continuam vivos mesmo depois dos 33 anos de seu brutal assassinato. A mártir foi uma sindicalista e defensora dos direitos humanos e a primeira mulher a lutar pelos direitos trabalhistas no estado da Paraíba durante a ditadura militar.
Na solenidade, o ex-presidente Lula afirmou que os que agora se apresentam como solução, entregaram o país quebrado e desafiou: “Quero ver se estão dispostos a andar por este país e discutir este país como ele precisa ser discutido”. Lula disse que não vai admitir retrocessos e voltará a viajar pelo país.
Na manhã desta quarta-feira, as participantes da Marcha seguiram até o Congresso Nacional e viraram as costas para o Parlamento em protesto contra o projeto das terceirizações, a redução da maioridade penal e a crise política. “Marcha, mulher, marcha / molha os pés mas não faz a unha / viemos de todo o Brasil / pedir a cabeça do Cunha”, cantavam as manifestantes. O presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) vem sendo o principal responsável pela crise política ao agir como oposição aos trabalhadores e ao país nas votações da Casa.
A Marcha das Margarida é organizada pela Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura). Para a secretária de mulheres da entidade, Alessandra Lunas, nos últimos meses o conservadorismo em diversos setores da política tem dificultado o acesso das mulheres a uma série direitos, como a educação, participação igualitária na política e ocupação de cargos nas esferas decisórias do país – além de colocar em risco direitos sociais já conquistados e a própria democracia. “Chegamos ao ponto de assistir a agressões machistas feitas à presidenta da República, sem nenhum pudor”, afirma.
Alessandra diz que os movimentos sociais não devem deixar de cobrar o governo federal para que reveja posições na área econômica que estão comprometendo o orçamento de políticas públicas e o crescimento econômico. Mas vê nos ataques da oposição a tentativa de atingir e desmoralizar todo o governo por questões de disputa partidária, sem nenhuma preocupação com as consequências para o país. Para ela, “o momento é preocupante e exige uma reação efetiva da militância nas ruas, principalmente porque envolve a defesa da democracia e das conquistas históricas dos trabalhadores.”
A secretária de mulheres da CUT Paraná e diretora de formação do Sindipetro PR e SC, Anacélie Azevedo, participou da Marcha. “É um grande momento para discutir as condições das mulheres no campo e na sociedade, principalmente sobre a violência contra as mulheres, a falta de participação nos espaços de decisão e a construção de políticas pública que promovam a equidade de gênero”, pontuou.