A Federação Única dos Petroleiros (FUP) recebeu com desconfiança a notícia da assinatura de acordo de cooperação entre os governos de Michel Temer (PMDB) e da Noruega no setor de petróleo e gás. A cooperação foi discutida em reunião na última semana, entre o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD), e o ministro do Petróleo e Energia da Noruega, Tord Lien.
De acordo com a assessoria de imprensa de Kassab, foi constituído um grupo de trabalho vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, além de setores da pasta das Minas e Energia (MME) e das Relações Exteriores (MRE), para estreitar a cooperação sobre o setor. “Este momento é uma nova fase na relação entre os países com um forte vínculo na área de ciência e tecnologia”, avaliou o ministro, conforme nota oficial.
O ministro das Minas e Energia, Paulo Pedrosa, que participou do encontro, destacou, conforme a assessoria, seu desejo de que “o Brasil, além de desenvolver sua indústria de petróleo e gás, possa exportar serviços e componentes. Isso está exigindo do governo repensar suas políticas para que o setor de energia possa melhor contribuir para o desenvolvimento e a criação de empregos no país.”
Para o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, a Noruega tem expertise reconhecida internacionalmente na área de segurança e de saúde no trabalho, que resultam em menores números e acidentes, mas que esse não parece ter sido o tema central do acordo. “Se tivéssemos a certeza de se tratar disso, eu estaria radiante”, disse.
Outros pontos que a Petrobras tem a aprender com os noruegueses, segundo Rangel, é o desenvolvimento da cadeia industrial para o setor, e a conversão da riqueza do petróleo em melhores condições de vida para a população. “Vínhamos dando nossos primeiros passos, tímidos, a partir do marco legal de 2009, que coloca em seu conteúdo a produção local em toda a produção, e que o atual presidente (Pedro Parente) quer acabar. E eles têm um fundo soberano, que transfere recursos do petróleo para investimentos sociais.”
No entanto, o dirigente da FUP acredita que o acordo, não revelado em detalhes, possa ser favorável apenas à Noruega ao incluir transferência de conhecimento brasileiro. “Com frequência a Petrobras e seus técnicos são premiados pela tecnologia desenvolvida na exploração de petróleo em águas profundas. E a Petrobras vence cada desafio que se coloca”, destacou.
Para Rangel, esse aspecto é relevante num momento em que a produção norueguesa está em declínio e a Statoil tem adquirido campos em diversas partes do mundo, como fez recentemente, comprando 60% do campo brasileiro de Carcará no final de julho.
“Temos de estar com um olho no peixe e outro no gato. Troca de conhecimento é muito comum no setor. Mas entendemos que todo acordo só é bom quando beneficia as duas partes. E seria ingenuidade acreditar nas intenções dessa atual administração, desse governo golpista. Vamos seguir fiscalizando.”
De acordo com o governo, as conversações tiveram início em 2013, quando Brasil e Noruega criaram uma força-tarefa para traçar estratégias para o século 21. Em 2015, a agência fomentadora de pesquisa brasileira Finep lançou edital para apoiar parcerias entre empresas e instituições de pesquisa entre os dois países para o desenvolvimento de tecnologias no setor de petróleo e gás. Foram aplicados R$ 5 milhões em subvenção econômica por parte da Finep e cerca de R$ 4,4 milhões em recursos não reembolsáveis por parte do Conselho de Pesquisa Norueguês para projetos em tecnologias submarinas, recuperação avançada de petróleo e tecnologias ambientais.
Via Rede Brasil Atual