Resultado da auditoria do SPIE da Repar

A auditoria foi concluída sem identificar problemas graves e iminentes que impediriam a manutenção do SPIE da Repar, mas apontou algumas preocupações registradas em relatório

 

 

A auditoria do Serviço Próprio de Inspeção de Equipamentos (SPIE) da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) foi realizada entre os dias 21 e 24 de novembro pelo IBP-Instituto Brasileiro de Petróleo.

 

Essa auditoria, que é realizada todo ano, tem como objetivo verificar a aplicação da NR-13 nos serviços de inspeção de equipamentos, tais como o plano de inspeção de equipamentos, os pareceres técnicos, a integridade dos equipamentos e sistemas controlados e demais itens relacionados à NR-13.

 

Nesta auditoria, diferentemente dos outros anos, o Sindicato participou como observador, acompanhando diretamente os trabalhos da equipe do IBP. E, como acontece todo ano, participou da entrevista com a equipe auditora, de modo a relatar todas as questões relacionadas ao SPIE da Repar e também às questões de SMS relacionadas aos equipamentos e sistemas controlados.

 

Na entrevista, os diretores sindicais reafirmaram a preocupação relacionada à reestruturação organizacional que está em andamento na refinaria, principalmente com relação à mudança da Gerência de Inspeção de Equipamentos, que deixou de ser uma gerência de grupo 1, para ser uma assessoria ligada diretamente ao GG. Essa mudança reduz o poder de decisão e de autonomia da Gerência de IE, pois a mesma não participará mais das reuniões de G1 e não estará na mesma hierarquia das gerências de Produção e de Manutenção. Na nossa visão, isso é um retrocesso, já que a gerência de IE tornou-se G1 após o acidente de 2000, e agora deixa de ser G1.

 

Também foi enfatizado na entrevista que o efetivo da IE está abaixo do necessário, conforme especificado na NR-13, pois no papel a empresa diz ter 18 técnicos de inspeção e 7 engenheiros, mas sabemos que na prática não é bem assim. Alguns desses técnicos foram transferidos para outro setor da refinaria e não estão mais atuando diariamente na IE, o que sobrecarrega os outros técnicos. O mesmo acontece com os engenheiros. Infelizmente, para a empresa e para a equipe auditora, o que vale é o que está escrito, e não como é na prática.

 

A redução de efetivo não afeta apenas o importante setor de IE, mas todos os outros setores da refinaria, seja na manutenção, na operação, na engenharia, na SMS, no compartilhados, na comunicação, na infraestrutura, etc. Com menos pessoas para realizar os serviços, mais acúmulo de função, mais horas-extras geradas, mais afastamentos por doenças e estresse, maior o clima de insegurança e insatisfação de todos os trabalhadores.

 

Soma-se a tudo isso uma política da atual direção da Petrobras em reduzir os investimentos em manutenção e em capacitação e está desenhado o cenário para os acidentes.

 

Esse foi o posicionamento dos diretores sindicais durante toda a auditoria: redução de efetivos, reestruturação organizacional reduzindo o poder da IE e corte de investimentos em manutenção e capacitação é o cenário para que ocorra algum acidente de grandes proporções!

 

Também foram discutidos outros pontos, não menos importantes: aumento da terceirização das atividades de execução e de planejamento de manutenção, alteração de escopos durante as paradas de manutenção focando apenas nos prazos e não nas condições de operação dos equipamentos e os recentes trips ocorridos nas unidades de HRC e UT.

 

Também foi entregue uma lista de equipamentos que traziam preocupação aos trabalhadores quanto às reais condições de operação e que tiveram resposta da empresa, tais como:

 

P-2231105 apresentou vazamento por poro em solda na linha à jusante. Resposta: vazamento foi sanado durante a última parada da unidade e que foi realizada verificação em toda a linha, sendo que não apresenta riscos de novos vazamentos.

 

U-2212 linha de efluentes dos reatores para blowdown apresentou vazamentos por poro. Resposta: os vazamentos ocorreram devido falha na montagem da linha de 20”, mas teve injeção de massa e está sob controle sem riscos à segurança.

 

P-2212025 vazando vapor no carretel e no boleado. Resposta: área isolada e vazamento controlado, com acompanhamento das equipes de IE e da operação, sem riscos à segurança.

 

P-2212011 apresentou vazamento interno, contaminando água de resfriamento da refinaria. Resposta: vazamento foi sanado na última parada da unidade, tubos furados foram “plugueados”.

 

P-2201 apresentou vazamento de nafta com benzeno. Resposta: foi retirado de operação devido vazamentos, aguardando intervenção.

 

P-5604B com inspeção de NR-13 vencida. Resposta: foi realizada a inspeção em setembro desse ano.

 

UT Linha de ácido da UTRA deformada e inoperante. Resposta: deformação da linha ocorreu devido falha operacional. Área está isolada, equipamentos fora de operação e aguardando intervenção.

 

B-5348D da UTRA com vazamento na linha de selagem LOA. Resposta: equipamento foi tirado de operação, aguardando intervenção.

 

TQ-4262 está com o dique inundado impossibilitando acesso ao tanque. Resposta: será realizada intervenção.

 

P-2225002/003/004, P-2212001 estão com falhas nas controladoras, sendo realizado controle manualmente na área. Resposta: este problema não está relacionado com o SPIE, sendo apenas um problema operacional.

 

GV-2201 com vários ramonadores inoperantes. Resposta: este problema não está relacionado com o SPIE, sendo apenas um problema operacional.

 

GV-5603 com limitação de carga em 130 ton/h devido possibilidade de trip quando queda de um queimador. Resposta: este problema não está relacionado com o SPIE, sendo apenas um problema operacional.

 

TQ-4340 recebendo diesel contaminado com água ácida e drenagens para dique. Resposta: será verificado pela IE possibilidade de danos ao equipamento.

 

A auditoria foi concluída sem identificar problemas graves e iminentes que impediriam a manutenção do SPIE da Repar, mas apontou algumas preocupações registradas em relatório, que foi encaminhado ao COMCER (Comissão de Certificação) e ao órgão interno do IBP que analisa os resultados das auditorias.

 

Os diretores sindicais concluíram ao final da auditoria que a manutenção do SPIE da Repar deve-se muito à dedicação e capacidade técnica dos trabalhadores e trabalhadoras dos vários setores de manutenção industrial, mas principalmente à equipe da Inspeção de Equipamentos, que apesar de todas as dificuldades, consegue manter os principais equipamentos e sistemas da refinaria em condições seguras. Apesar disso, sabemos que a segurança não deve ficar sob responsabilidade apenas dessas equipes, pois todos somos humanos e sujeitos ao erro. Enquanto a Petrobras insistir em apenas priorizar indicadores e metas de redução da dívida, as condições operacionais dos equipamentos continuarão em degradação, diminuindo a confiabilidade e aumentando as possibilidades de acidentes.

 

Como todos sabem, reduzir o número de trabalhadores, reduzir investimentos em manutenção e em capacitação e contar com a sorte (risco assumido) é o cenário perfeito para a tragédia.