Tabus ainda recaem sobre a presença das mulheres nas fábricas

Acidente com trabalhadora terceirizada despertou o machismo que ainda habita em muitos.  

 

Não é novidade para ninguém! Quando ocorre um acidente dentro da empresa, muitas vezes a culpa recai sobre o trabalhador acidentado. Nesses casos, também com frequência são utilizados de RTA, DDS ou conversas informais.

 

Com o recente acidente desta parada de manutenção na Repar não poderia ser diferente, mas há um agravante: o fato de o acidente ter acontecido com uma mulher.  Há muitos relatos de mulheres acidentadas escutarem que “deveriam estar no fogão e no tanque, e não na fábrica”. Este último evento gerou o mesmo tipo de comentário, e pior, de um gerente setorial.

 

O referido acidente aconteceu no dia 13 de janeiro e feriu uma trabalhadora terceirizada que atuava na parada de manutenção da refinaria. Ela teve dois dedos esmagados e teve que operá-los. É ainda mais insultuoso saber que, muitas vezes, esses mesmos comentários são reproduzidos por colegas de trabalho, sendo que cotidianamente os homens se acidentam. “Mesmo assim, em sua maioria, as mulheres que trabalham em fábricas pesadas já ouviram esses absurdos em algum momento de sua vida laboral. Parece que as pessoas esperam que as mulheres tenham o mesmo papel social que tinham no século XIX”, afirma Anacélie Azevedo, diretora do Sindipetro PR e SC e secretária de mulheres da CUT Paraná.

 

Diversas pesquisas de Departamentos de Trânsito dos estados brasileiros revelam que as mulheres são mais cuidadosas no trânsito. Inclusive, com base nessas pesquisas, as seguradoras cobram tarifas menores para mulheres em diversas regiões. Cabe a reflexão se é certo dizer então que elas não levam este mesmo cuidado para as outras esferas da vida, como no ambiente trabalho, por exemplo?

 

Outro pensamento muito comum é de certo “protecionismo”, de que os trabalhos pesados nas fábricas não deveriam ser realizados por mulheres. Um grave engano, primeiro porque uma das pautas principais do movimento sindical é a melhoria das condições de trabalho, com a aplicação de tecnologias existentes para que haja a redução do máximo esforço físico na rotina laboral, o que beneficiou a todos, pois é desejável que os trabalhadores possam chegar em casa e ainda ter fôlego para realizar suas atividades particulares em condições decentes de viver suas vidas.

 

A sociedade também costuma subjugar a força física das mulheres. Esquecem da força necessária nos braços para carregar seus filhos por horas a fio, ou das mulheres do campo, que além de ir à roça com o marido, cuidam dos filhos, da casa, da limpeza das roupas (há pouco tempo atrás essa atividade era feita manualmente e em muitos casos ainda é), e são as absolutas responsáveis pela roça doméstica, “hortinha” que produz grande parte dos alimentos consumidos pela família.

 

A repercussão do acidente com a trabalhadora terceirizada na Repar confirma que o machismo está enraizado na sociedade. É preciso ter a clareza de que combater o machismo não é ser contra os homens. É dar condições de igualdade para as mulheres e lutar por um mundo mais justo.