O tema aquecimento global entrou na agenda mundial entre as décadas de 80 e 90. Obviamente colaram um vilão: o petróleo. Isso significa dizer que começou a se pautar a substituição do hidrocarboneto enquanto recurso energético.
Assim como o acesso à energia é condição fundamental para o desenvolvimento humano e melhoria da qualidade de vida, ajusta-se a isso a redução do uso do petróleo, pois esse é um dos principais agentes agravantes das mudanças climáticas. Mas uma coisa é fato, a humanidade não irá deixar de utilizar tão cedo esses derivados:
combustíveis, lubrificantes, parafinas, gás natural e de cozinha, graxas, asfalto, fertilizantes, plásticos, cosméticos, tecidos sintéticos, remédios e uma infinidade de produtos essenciais para a vida de todos.
Claro que isso não é desculpa para deixar de se investir em tecnologias e pesquisa em produtos mais sustentáveis. Está aí um desafio muito: conseguir superar os custos baixos da produção petrolífera.
Dito isso, neste último artigo da série (leia as outras análises: link 01 e link 02), vamos falar da Petrobrás e a ampliação das matrizes energéticas brasileiras.
O álcool como combustível
A principal energia renovável que o Brasil investiu nas últimas décadas é o etanol, popularmente conhecida como “álcool combustível”. A verdade é que esse biocombustível, produzido a partir da cana-de-açúcar, não entrou no mercado em função de uma preocupação com recursos naturais petrolíferos ou devido a agenda climática global.
Foi a partir da década de 70, com grandes oscilações no preço do petróleo, no mundo e na economia brasileira, que muitos países entraram em colapso. Nessa catástrofe energética, o governo brasileiro (então militar) foi buscar alternativas.
Com baixas reservas de petróleo, o Brasil, sendo um dos maiores produtores de cana-de-açúcar do mundo, desenvolveu o Programa Proálcool, que nos ajudou a reduzir a dependência do petróleo importado e resolveu a crise dos usineiros de açúcar.
Porém, só no início de 2000 é que os impactos ambientais positivos do Proálcool foram sentidos. Nas grandes cidades, em especial São Paulo, o aumento da frota de automóveis movidos a etanol foi fundamental para amenizar os níveis de poluição.
O Programa também possibilitou o fim da adição do chumbo-tetraetila na gasolina como detonante. O etanol passou a cumprir essa função.
Dessa forma, o Brasil se tornou, na época, um dos poucos países a abdicar do metal pesado e a Petrobrás foi fundamental para garantir a consolidação do Proálcool. A estatal garantiu as tancagens de armazenamento e a distribuição do etanol por todo o país.
Já o marco econômico do etanol foi em 2009. Nesse ano se vendeu mais etanol nos postos de combustíveis do que gasolina! O Proálcool tornou-se referência internacional como energia renovável e redutor de CO2.
É importante destacar que não houve produção de etanol na região norte do país. O desmatamento de 1 hectare de terra na região amazônica, por exemplo, colocaria todo esse programa em suspeição pela comunidade internacional. A produção de etanol se consolidou basicamente em São Paulo, uma parte do Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais.
Termelétricas, hidroelétricas, eólicas e solares
Se existe um sinal claro da mudança em direção as energias limpas por parte das grandes empresas petrolíferas é a adoção de energias renováveis em seus negócios. A Petrobrás não está fora desse contexto.
A Companhia investe não só em pesquisa, como também em produção de fontes alternativas de energia. É aí que entram as termelétricas, hidroelétricas, eólicas e energia solar. Essas, mesmo causando danos ao meio ambiente, se apresentam como fontes limpas.
As usinas termelétricas se destacam no portifólio. Há também investimento em eólicas, como em Macau, o Parque Eólico de Mangue Seco e a construção da usina fotovoltaica no município de Açu (RN).
A ex-subsidiária da Companhia, Petrobrás Distribuidora, também participa do setor elétrico, oferecendo serviços de eficiência energética, cogeração, geração com biomassa, comercialização de energia e geração na ponta.
Vale lembrar que a Petrobrás passou a investir fortemente nestas áreas após o período neoliberal. O objetivo foi complementar as necessidades de energia no país, principalmente em períodos de seca e grande demanda.
Até 2010 a Companhia defendia atuação diversificada, ou seja, se tornar uma empresa de energia; não somente uma petrolífera. Tendo em vista não somente ajudar no meio ambiente, mas também na soberania brasileira, gerando empregos e redução dos custos de vida à população.
Infelizmente, em 2019, com a retomada dos desinvestimentos neoliberais, a empresa está se desfazendo dos seus patrimônios. Das 26 termoelétricas, provavelmente 15 serão entregues ao mercado financeiro. Atitude que caminha na contramão da soberania nacional.
Por Simone Lucca.
*Foto: Gilmar Oliveira