Apesar da Petrobras adotar a política de preços internacionais desde o governo Temer, a queda nos preços do barril no mundo dificilmente aliviará os bolsos dos consumidores
A queda nos preços do barril do petróleo no mundo dificilmente vai favorecer os consumidores brasileiros. Os preços nas bombas dos postos de combustíveis, do diesel, da gasolina e até mesmo o gás de cozinha, devem ficar estáveis.
A análise é do técnico da subseção do Dieese na Federação Única dos Petroleiros (FUP), Cloviomar Cararine. Para ele, após a Petrobrás ter iniciado a política de acompanhar os preços internacionais, a estatal ficou mais vulnerável às turbulências do mercado externo, prejudicando a economia do país e fazendo o consumidor pagar pela conta.
“As reduções podem se perder ao longo da cadeia, entre distribuidores, até chegar aos postos de gasolina. A falta de estabilidade dos preços prejudica a fiscalização”, afirma Cloviomar.
O técnico do Dieese diz ainda que para entender como a atual política de preços da Petrobrás impede que a redução do preço do barril chegue ao consumidor, é preciso analisar as políticas econômicas dos três últimos governos: Dilma Rousseff (PT), do golpista Michel Temer (MDB-SP) e do ultraliberal Jair Bolsonaro (sem partido).
Antes do golpe que derrubou a ex- presidenta Dilma, em 2016, a direção da Petrobrás levava em consideração vários fatores para chegar ao preço: aumento da produção de petróleo no Brasil, o custo dessa produção, o preço de custo na refinaria, a taxa de câmbio, o valor que as importadoras pagavam para trazer derivados, entre outros, o que favorecia o consumidor.
Já Michel Temer mudou a estratégia da Petrobras e passou a reajustar diariamente, para cima ou para baixo, o valor do preço do petróleo de acordo com o mercado internacional. Subiu lá fora, aumentava aqui, se caísse, baixava, o que na grande maioria das vezes fazia o consumidor pagar mais caro.
O atual governo de Jair Bolsonaro misturou as duas políticas. De um lado, já não reajusta diariamente o preço dos combustíveis (a média de reajuste é a cada 15 dias), mas mantém a política de preços atrelada ao mercado internacional.
No entanto, em virtude de sua visão privatista deixou de levar em consideração as variáveis que Dilma utilizava para diminuir o valor que o consumidor pagava. Atualmente, a Petrobrás já não olha o volume e o custo de produção de petróleo porque a decisão do governo é exportar óleo cru e, assim, os preços continuam em alta.
“Não importa se o custo de produção e refino caíram. O que importa agora é se aproximar do preço internacional sem levar em consideração essas variáveis, até porque interessa ao governo vender as refinarias e privatizar a Petrobras. Por conta disso, os preços dos combustíveis sobem”, conta o técnico do Dieese/FUP.
Ainda segundo Cloviomar, se o governo levasse em consideração a redução dos custos da produção, os preços dos combustíveis poderiam cair. No entanto, a equipe econômica do governo, liderada pelo banqueiro e ministro da Economia, Paulo Guedes, tem uma política de privatização, de retirada do Estado da economia.
“A retirada do Estado da economia passa pela privatização da Petrobras, que já começou com a BR Distribuidora sendo privatizada e agora existe a tentativa de vender metade do parque de refino, além de permitir a entrada forte de empresas estrangeiras na produção de petróleo no Brasil”, alerta.
Cloviomar afirma ainda que sem o Estado controlar a venda e o refino do petróleo, o consumidor paga um preço maior, porque a decisão do mercado é o lucro e não o abastecimento: “a retirada do Estado do mercado petrolífero aumenta a instabilidade. É como se o Brasil não produzisse petróleo e a população não é beneficiada”.
Como é composto o preço dos combustíveis
Além das políticas econômicas de cada governo, o preço final da gasolina depende de uma série de fatores.
A constituição do preço começa na refinaria com o preço do barril, soma-se aos impostos federais e estaduais, a participação da indústria agro alcooleira, já que o etanol entra na composição da gasolina, os valores cobrados pelas distribuidoras, que compram na refinaria e levam até o posto, e , por fim, o próprio dono do posto de gasolina que determina o preço final.
“O problema é que quando a Petrobras aumenta o preço nas refinarias automaticamente sobe o preço na bomba de gasolina. Os postos de combustíveis não fazem a redução de preços, a indústria agro alcooleira aumenta o preço do álcool e do etanol e as distribuidoras aumentam sua margem de lucro. Com isso, quando se reduz o preço na refinaria, nem sempre ele cai na mesma velocidade nos postos”, critica Cloviomar.
Atuação do governo Bolsonaro deixa país mais vulnerável
Na tentativa de reverter o cenário de instabilidade nas bolsas (a Petrobras responde por 11% do Ibovespa) e no câmbio (dólar) o governo tem queimado as reservas cambiais deixando o país vulnerável. O governo Bolsonaro já queimou US$ 42 bilhões, que agora somam US$ 350 bilhões. Essa não pode ser a única medida adotada pelo governo, alerta a técnica da Subseção Dieese/CUT Nacional, Adriana Marcolino.
“O maior entrave é o baixo crescimento dos últimos anos e a falta de credibilidade internacional do Brasil (nas instituições, no comando do país e na economia). Falta atuação do governo para retomar crescimento com investimento público e utilizando todas as ferramentas disponíveis ao Estado brasileiro”, afirma Adriana.
Entenda a crise do petróleo
Na última sexta-feira (06), a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) discutia um acordo para a redução da produção em todos os países, devido à baixa produção da economia mundial atingida pelo Coronavírus 19. Rússia e Arábia Saudita não chegaram a um acordo sobre o tamanho das cotas de cada um nesse novo cenário.
Diante disso, a Arábia Saudita anunciou, na segunda-feira (09), que irá aumentar a produção de barris de petróleo de 9,7 milhões/dia para até 11 milhões/dia (o país tem capacidade para produzir até 12 milhões/dia).
Os sauditas cortaram entre US$ 4 e U$ 6 o preço de seus barris para entrega em abril com destino à Ásia e em 7 dólares os destinados aos Estados Unidos. A Aramco reduziu o preço do barril da petroleira Arabian Light a um preço sem precedentes de 10,25 dólares, diz o site Bloomberg.
Como resultado da briga entre os dois países, os preços internacionais do petróleo caíram cerca de 25%, o maior tombo em quase 30 anos.
No Brasil, o efeito desta decisão derrubou o valor da Petrobras. Em 24 horas, a estatal brasileira perdeu num só dia, em valor de mercado mais de R$ 91 bilhões, o equivalente a 15 vezes o prejuízo alegado pela Operação Lava Jato.
Via CUT Nacional.