Referência para sindicalismo brasileiro, Jacó Bittar morre aos 81 anos em Campinas

Bittar foi um dos fundadores do Sindipetro-SP, do PT e da CUT. Seu legado de lutas e conquistas marca toda uma era na história da classe trabalhadora brasileira desde a ditadura militar

 

 

A história de luta da classe trabalhadora no Brasil perdeu, na madrugada desta quinta-feira (26), um de seus expoentes. O incansável defensor da democracia Jacó Bittar morreu aos 81 anos de idade, após uma intensa luta de anos contra o mal de Parkinson. Fisicamente, Bittar não estará entre nós, mas serão eternos o seu legado, a sua luta, as suas conquistas e as mais ternas lembranças da convivência com os amigos, diz a direção executiva da CUT Nacional, que lamenta a morte do companheiro e se solidarizara com a família e os amigos.

 

Bittar coleciona em sua história feitos importantes como a fundação do Sindicato dos Petroleiros de Campinas e Paulínia, que anos mais tarde, junto com outras entidades passaria a ser o Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo (Sindipetro-SP). Também a fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT, e a fundação da CUT. Foi prefeito de Campinas entre 1989 e 1992.

 

Amigos, correligionários e companheiros de luta se manifestaram sobre sua morte. “Bittar deixa a todos nós um legado de luta e conquistas. Um companheiro que entrou na história da classe trabalhadora e do país”, disse o presidente da CUT, Sérgio Nobre, em suas redes sociais, ao expressar carinho e solidariedade à família.

 

O vice-presidente da Central, Vagner Freitas, em seu Twitter, lembrou a atuação de Bittar. “Quem conviveu com a forte presença de Bittar na luta pela redemocratização do Brasil, na fundação do PT e da criação da CUT, sabe o quanto Jacó foi importante neste período histórico”, disse.

 

Em nota, o PT também exaltou o espírito de liderança de Jacó Bittar. “Liderou com Lula e Olívio Dutra uma geração de jovens dirigentes sindicais que resistiram à ditadura militar e escreveram páginas decisivas na história da democracia brasileira”, diz trecho do texto.

 

Outra grande liderança do partido, o vereador de São Paulo, Eduardo Suplicy, com quem Bittar dividiu muitas histórias de luta, expressou sua dor. “Meu profundo sentimento pelo falecimento de um dos fundadores do PT e Prefeito de Campinas. Ele iniciou a prática do orçamento participativo. Foi também um dos fundadores da CUT”, disse em seu Twitter.

 

O vice-prefeito de Campinas, Wanderley de Almeida, o Wandão, também do PSB, partido ao qual Bittar estava filiado desde 1991, afirmou em nota que “Jacó Bittar foi personagem ativo nas lutas e transformações sociais do país, sendo condutor ideológico e construtor da democracia brasileira”.

 

Parte da história do Brasil

Engajado desde cedo na luta por uma sociedade melhor e mais justa, Bittar, nascido em Maturi (SP), ainda menino, em 1950, se mudou com a família para o litoral paulista, onde começou sua vida profissional anos mais tarde. Foi estivador no Porto de Santos e passou em um concurso da Petrobras.

 

Após alguns anos como funcionário da Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão, transferiu-se para a Refinaria de Paulínia, a Replan. Foi lá que deu início à atuação sindical. Era 1973 e o Brasil atravessava os duros anos de ditadura militar. A opressão não foi obstáculo para que Bittar liderasse e participasse de importantes greves da categoria como a de 1983 que resultou em sua demissão da estatal.

 

Mas, Bittar já havia feito sua incursão também no meio político, começando a participar ativamente do partido que ajudara a criar junto com Lula. Em 1982, um ano antes de ajudar a criar a maior central sindical da América Latina, a CUT, Bittar havia se candidatado a senador por São Paulo e obtido a expressiva marca de 1.1 milhão de votos (9,6% do total).

 

Como prefeito de Campinas, Bittar, entre as várias realizações, revolucionou a Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), despoluiu a lagoa do Taquaral, um dos cartões postais da cidade, modernizou o transporte público e privilegiou a população mais carente com políticas como o desconto nas passagens e passe livre aos domingos.

 

“Em Campinas, revolucionou a cidade com administração moderna, inovadora através de seus projetos sustentáveis, ecológicos, educacionais e de mobilidade urbana”, como lembou o atual vice-prefeito de Campinas.

 

Recentemente, Jacó Bittar recebeu visita de Lula, outro grande amigo e companheiro, em sua casa. Jacó deixa filhos e netos. Seu corpo será sepultado às 16h30 desta quinta-feira.

 

“O importante é fazer história” – Jacó Bittar (1940-2022)