20 de Novembro: inferior é o racismo!

Preconceito histórico e estrutural castiga a população negra do Brasil.

Recebem salários menores, têm baixa representatividade política e ainda sofrem cotidianamente com o racismo histórico e estrutural presente na sociedade. Essa é a realidade da população negra do Brasil. Por isso, o Dia da Consciência Negra é tão importante.

 

Apesar de serem maioria, 56% se declararam pretos ou pardos no Censo de 2022, os dados revelam índices achatados. Os pretos ganham 40,2% a menos do que os brancos por hora trabalhada. Há 10 anos essa diferença era de 42,8%, ou seja, a desigualdade salarial se mantém praticamente a mesma.

 

Os pardos também são vítimas dessa disparidade, ganhando 38,4% menos do que os trabalhadores brancos. Em média os brancos ganham R$ 19,22; os pretos R$ 11,49 e os pardos R$ 11,84, por hora trabalhada. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD) Contínua, divulgada em agosto de 2022 pelo IBGE.

 

O estudo “Jovens Negros e o Mercado de Trabalho”, produzido pelo Núcleo de Pesquisa Afro do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e pelo Instituto de Referência Negra Peregum, com base nos dados do IBGE e pesquisas com jovens de cinco capitais brasileiras (Recife, Belém, Brasília, Belo Horizonte e Porto Alegre), mostra que cerca de 60% dos trabalhadores informais no Brasil são negros. Essa parcela da população ocupa apenas 6,3% dos cargos gerenciais e menos de 5% das posições executivas. Quase metade das mulheres negras são inativas e as que estão inseridas no mercado de trabalho recebem salários ainda menores que homens negros.

 

Quando o assunto é representatividade política, a população negra também está em ampla desvantagem. Dos 513 deputados e deputadas federais, apenas 26% são negros ou negras.

 

O contexto do negro na sociedade brasileira fica ainda pior em relação aos crimes de racismo. O país registrou aumento de 68% de casos em 2022, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Foram registradas 2.485 ocorrências no último ano. Em 2021 houve 1.467 casos. Os estados do Rio de Janeiro, Bahia e Santa Catarina lideraram o crescimento das notificações.

 

Em menor escala, o número de denúncias de injúria racional também cresceu no Brasil. Foram 10.990 em 2022, ante as 10.814 de 2021. No início deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que iguala a injúria racial ao crime de racismo.

 

Inferior é o racismo!

Supremacistas ignorantes, com perdão pelo pleonasmo, colocam a população negra como inferior. Com o avanço no cenário geopolítico da extrema direita, berço dos extremistas, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista e propagar que inferior mesmo é o racismo.

 

Na ilustração desta matéria, a comunicação do Sindipetro Paraná e Santa Catarina apresenta apenas algumas das muitas personalidades negras que remetem à luta antirracista. Conheça um pouco sobre elas:

 

Angela Davis: Filósofa, intelectual e ativista estadunidense, é uma das mais importantes feministas contemporâneas. Ela ficou conhecida por participar do Partido dos Panteras Negras. Nos anos 1970, foi injustamente perseguida pelo FBI e sua luta a tornou uma referência para movimentos e intelectuais negros ao redor do mundo.

Antonieta de Barros: Nascida em Florianópolis, no dia 11 de julho de 1901, Antonieta era filha de escrava liberta. Se tornou educadora, jornalista e foi a primeira parlamentar negra do Brasil, eleita em 1934. Sua trajetória é marcada pelo engajamento na emancipação feminina, na promoção da educação e na valorização da cultura negra. Em 1948, apresentou o projeto de lei que estabeleceu o Dia do Professor, celebrado nacionalmente no dia 15 de outubro.

Cornel West: Filósofo contemporâneo, autor, ativista político, defensor dos direitos humanos e intelectual engajado. West é professor na Universidade de Princeton (EUA). Defensor do socialismo democrático, faz duras críticas ao imperialismo, racismo e militarismo, além de defender um futuro de justiça e igualdade para novas gerações.

Enedina Alves Marques: Foi a primeira engenheira civil negra do Brasil. Graduou-se em 1945, aos 32 anos, pela Universidade Federal do Paraná, e colaborou com diversas obras significativas no estado, como a Usina Governador Pedro Viriato Parigot de Souza, a maior central hidrelétrica subterrânea do sul do Brasil, localizada em Antonina.

Luísa Mahin: Considerada uma das maiores lideranças negras contra a escravidão na Bahia do século 19, Luísa Mahin foi mãe do abolicionista Luís Gama. Pertencia à nação nagô-jeje, originária do Golfo do Benin. Era do povo Mahin. Sua casa teria sido o quartel general da Revolta dos Malês, em 1835.

Marielle Franco: Socióloga e mestra em Administração, Marielle cresceu no Complexo da Maré (RJ) e se elegeu como vereadora em 2016. Com mais de 46 mil votos, tornou-se a segunda mulher mais votada ao cargo em todo o país. Militante dos direitos humanos e das minorias, foi brutalmente assassinada no dia 14/03/2018. O crime segue sem solução e a sociedade ainda questiona quem mandou matar Marielle Franco.

Nelson Mandela: Também conhecido como Madiba, o Nobel da Paz Nelson Mandela foi o principal líder político da história da África do Sul. Lutou contra o apartheid, presente em seu país entre 1948 e a década de 1990, se tornando referência mundial na busca por uma sociedade igualitária. Passou 27 anos na prisão e só foi libertado após campanha internacional. Em 1994 foi eleito presidente de seu país.

Vinicius Junior: Futebolista brasileiro de 23 anos que atua no Real Madrid, o atleta emergiu como uma das principais vozes antirracistas do esporte na atualidade. Após sofrer sucessivos ataques racistas em jogos na Espanha, sua dor comoveu o mundo. Há um ano, o atleta fundou o Instituto Vini Jr, que apoia a educação pública através da tecnologia e do esporte.

Zumbi dos Palmares: Símbolo da luta contra a escravidão, Zumbi foi assassinado em 20 de novembro de 1695 durante uma batalha contra as forças da Coroa Portuguesa, lideradas pelo bandeirante Domingos Jorge Velho. O Dia da Consciência Negra foi criado para homenagear Zumbi, o último do líder do Quilombo dos Palmares.

Um dia pela consciência

O Dia Nacional da Consciência Negra é uma data de celebração e de conscientização sobre a força, a resistência e o sofrimento que a população negra viveu no Brasil desde a colonização. Foram quase 400 anos de escravidão do povo negro, cujas condições sociais até hoje seguem abaladas, reflexos desse triste passado. O Brasil sofre com o racismo histórico e estrutural. Foi o último país do mundo a abolir a escravatura (1888) e tem muito por evoluir em relação à consciência negra na sociedade.

 

A data, celebrada neste 20 de novembro, faz referência à morte de Zumbi, então líder do Quilombo dos Palmares, situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, assassinado por bandeirantes liderados por Domingos Jorge Velho. O Dia da Consciência Negra foi instituído oficialmente pela lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. Muitos estados e municípios do país decretaram o 20 de novembro como feriado. Não é o caso do Paraná, onde apenas a cidade de Guarapuava tem a data como feriado municipal. Em Santa Catarina também não é feriado estadual, a única cidade que decretou o Dia da Consciência Negra como feriado municipal foi Florianópolis.