“Este seminário foi a pedra fundamental para o Museu da Democracia”, afirmou a presidenta do Instituto Defesa da Classe Trabalhadora (iDeclatra) e coordenadora-geral do projeto, Mírian Gonçalves, ao encerrar o evento “A redemocratização brasileira, movimentos sociais e o Museu da Democracia” que ocorreu de 10 a 12 de abril, organizado pelo instituto com o patrocínio do Banco do Brasil, do governo federal e apoio da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Centro Universitário UniBrasil e da Universidade Tuiuti do Paraná. Ela também destacou a importante colaboração da filósofa e professora emérita da USP, Marilena Chaui, ao projeto e agradeceu o imprescindível respaldo de toda a diretoria do iDeclatra à proposta do Museu da Democracia.
Ao longo dos três dias de seminário, foram 13 palestras e a apresentação cultural “Músicas que marcaram as Diretas Já”, da artista e professora de geopolítica, Luciana Worms, com a participação de 373 pessoas entre professores, estudantes, especialistas na área da cultura, artistas, advogados, profissionais liberais, representantes de movimentos sociais, autoridades políticas como a deputada estadual, Ana Júlia Ribeiro, os vereadores de Curitiba Angelo Vanhoni, Giorgia Prates e Professora Josete, a superintendente do Ministério do Trabalho no Paraná, Regina Cruz, a Secretária Nacional do Ministério das Mulheres, Carmen Foro, o ex-diretor de Itaipu Binacional Jorge Samek, o filho de Luís Carlos Prestes, Antonio João Ribeiro Prestes e sua esposa, a bailarina e coreógrafa, Jô Braska Negrão, o diretor de Patrimônio Cultural da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), Gabriel Paris.
Durante o encerramento, no dia 12 de abril, palestraram os artistas e curadores das obras de seus pais, Ivan Cosenza de Souza com a apresentação sobre Henfil, um dos maiores cartunistas do país, e Aurea Leminski, filha de Paulo Leminiski, grande poeta e artista brasileiro, ícone cultural de Curitiba. Tanto Leminski quanto Henfil completariam 80 anos em 2024. Ambos trouxeram relatos das trajetórias profissionais, processos criativos e exemplos em textos e imagens associados ao período de redemocratização no Brasil. “Meu pai era um decodificador da complexidade da política”, explicou Ivan Cosenza de Souza. Ele relembrou episódios marcantes da vida do pai no enfrentamento à ditadura militar como a criação da campanha pelas “Diretas Já”, a sua participação fundamental para o sucesso do jornal “Pasquim” em conjunto com Ziraldo e demais jornalistas em plena repressão e violência do governo militar. Já Áurea Leminski ressaltou que seu pai e sua arte transcendiam aos espectros políticos e agregavam figuras tanto da direita quanto da esquerda. Contou ainda que Leminski era um apaixonado pela atuação de Leon Trótski, um dos líderes da Revolução Russa de 1917, e por isso escreveu uma biografia em sua homenagem. Amigo de Leminski, em seu relato, o vereador Angelo Vanhoni relembrou a ligação de Tróstki com as artes plásticas a exemplo do surrealismo. “Era um revolucionário da arte e da palavra”, afirmou. Na ocasião, aproveitando as palestras de Aurea e Ivan, a presidenta do iDeclatra, Mírian Gonçalves, os convidou para uma curadoria em conjunto sobre as obras de seus pais para o Museu da Democracia.
Na sequência, a especialista em projetos culturais da Fundação Roberto Marinho e diretora do Instituto Cuia, Ana Cândida Baêsso Moura, palestrou sobre a temática a “construção democrática de um museu” e, aproveitando o relato de Aurea Leminski sobre o perfil do pai, enfatizou a importância de um equipamento cultural que deve abarcar amplo espectro político e dialogar com diferentes camadas da sociedade e ainda estar em sintonia com a contemporaneidade em que o sujeito deseja ser protagonista, viver experiências, ter acesso à metalinguagem e ser co-criador dos espaços.
Para debater a mesa final com a temática “Constituição de 1988, artigo 5 e as garantias sociais”, participaram o Procurador Geral da União (AGU- Advocacia Geral da União), Marcelo Eugênio Feitosa de Almeida, o conselheiro do Observatório da Democracia da AGU, ex-presidente da Comissão de Ética da Presidência da República, Mauro Menezes, e ainda o reitor da UFPR, professor Ricardo Marcelo Fonseca. O procurador-geral da AGU, Marcelo Eugênio, iniciou sua fala transmitindo os cumprimentos do Ministro da AGU, Jorge Messias, pela relevância do seminário e sua saudação aos participantes. Em sua palestra, salientou a crise da democracia não só no Brasil, mas em diversas partes do mundo com o avanço da extrema-direita. E centrou nos desafios contemporâneos face aos autoritarismos com o populismo digital e econômico com o uso de redes sociais e a disseminação de desinformação. Para tanto, listou diversas ações da AGU como, por exemplo, a criação da Procuradoria Nacional da União em Defesa da Democracia e do Observatório da Democracia de modo a estruturar mecanismos de combate a iniciativas que atentem contra o Estado Democrático de Direito e ainda de promover pesquisas em democracia defensiva. Nesse sentido, o advogado e conselheiro do Observatório, Mauro Menezes, destacou as diversas ações em combate a conspirações e atentados contra a democracia brasileira no período pós-eleições de 2022 e nos atos golpistas de 08 de janeiro de 2023, assim como, para fomentar uma sociedade cuja cultura valorize a democracia. Por fim, o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, analisou em sua palestra diferentes paradoxos da democracia, ilustrados por meio de diferentes experiências na Universidade e no meio jurídico, ressaltando os desafios da convivência sob o dissenso e as diferentes posições políticas.