A Repar é referência em produtividade. Os índices alcançados através dos anos pela Refinaria de Araucária estão sempre entre os melhores do país. O que os indicadores não revelam é o preço que os trabalhadores pagam para colocar a unidade nesse patamar. Não o preço calculado em cifras, mas aquele de valor muito superior, o da dedicação e esforço, muitas vezes sobre-humano em razão do efetivo extremamente reduzido.
Nas entrevistas com petroleiros da Repar, há um termo é comum: a exaustão. George Santos trabalha no ED (Equipamentos Dinâmicos) e destaca o acúmulo de serviços. “Existe sobrecarga de tarefas que quem está lá no Rio de Janeiro não consegue perceber. Aí chegam relatórios que indicam que existem trabalhadores suficientes. No meu setor, se fosse parar e fazer apenas os atrasados levaria ao menos uns 20 dias. E ainda tem a rotina do dia a dia”, relatou.
A petroleira Paula Eloisa Sus atua na Produção, no setor de Destilação e Hidrodesulfarização (DH),e diz que o cenário está cada vez pior. “As rotinas de trabalho só aumentam e o corpo técnico diminui cada vez mais. Muitos se aposentam e não são abertos novos concursos. Isso gera um ambiente de trabalho bastante estressante. Estamos correndo a cada momento, desde que pisamos na refinaria, especialmente no turno das 07h30 às 15h30, quando tem manutenção. São muitas PTs e fica difícil acompanha-las como o padrão pede”.
No setor de Hidrotratamento e Reforma Catalítica (HRC) não é diferente. Jumar Tavares da Silva descreve a correria. “Hoje na área existem apenas dois operadores para conduzir cinco unidades. Um fica no Hidrotatamento de Instáveis (HDTI) e outro opera duas unidades de Tratamento de Gás Ácido (DEA), mais a unidade de Propeno e ainda a de Geração de Hidrogênio (UGH), que produz 80 toneladas/hora de vapor de 45kgf/cm². Desde que chego até a saída é estafante. Tenho que elencar prioridades, geralmente, quando tem trabalho na UGH as demais ficam largadas porque não tem como se dividir. Para trabalhar de modo seguro, deveríamos ser sempre em três operadores e três nos consoles”.
O problema se repete na Segurança Industrial da SMS. Segundo Edson Lara, petroleiro do setor, o efetivo reduzido causa sequência de dobras e pessoas que estão de folga são chamadas para o trabalho. “As tarefas vão se acumulando e é impossível estabelecer uma ordem nos serviços. Hoje a SMS tem apenas dois trabalhadores no administrativo e 32 em turno. No estudo que fizemos junto com o Sindicato, deveríamos ter pelo menos 48 no turno. A realidade é de completa insegurança. Pessoas inexperientes são deslocadas para funções de alta complexidade e os antigos vão para o administrativo, ou seja, jogados para escanteio. A situação da SMS é de total sucateamento nos últimos 15 anos. Há vários indícios de mascaramento de trabalhos de prevenção à exposição ao benzeno. Recentemente houve vazamento de nafta na Unidade de Coque. Do jeito que está, temos que partir para um movimento maior, porque na conversa não está adiantando”.
O trabalho na Repar se transformou em um verdadeiro calvário. A gestão até agora não apresentou contraproposta e afirmou em mesa de negociação que o efetivo está adequado. O problema remete a apenas um caminho: o da radicalização das mobilizações.