Robin Hood às avessas

Aumento da taxa Selic favorece rentistas e prejudica a população

Reunido na noite de quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, de forma unânime, aumentar a taxa básica de juros, chamada de Selic, em 0,5 ponto percentual, de 14,25% para 14,75% ao ano. A determinação mantém os juros básicos em patamares altíssimos e coloca o Brasil na terceira posição entre os países com as maiores taxas de juros reais do mundo (taxa básica de juros descontada a inflação), atrás apenas de Turquia e Rússia.

As justificativas apontadas pelos membros do Copom incluíram o contexto geopolítico, com ênfase na economia dos EUA, e o cenário interno, marcado principalmente pela pressão inflacionária decorrente das altas nos preços dos alimentos e da energia.

A decisão, no entanto, é amplamente questionada. Segundo o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Cavarzan, “a Selic é eficiente para controlar inflação relacionada ao aumento da demanda, ou seja, pelo crescimento do consumo. Para a questão dos alimentos enfrentada hoje, o mais assertivo seria a recomposição dos estoques reguladores de alimentos, como o governo federal tem procurado fazer. Já em relação à energia, a saída mais adequada está no combate ao desmatamento e políticas de transição energética”.

A CUT manifestou repúdio à nova alta na taxa de juros. A Central destaca que a medida do Copom está em clara contradição com as necessidades de reconstrução econômica e social do país. “Enquanto o governo do presidente Lula avança na redução da inflação, no fortalecimento do real, na geração de empregos e na aprovação de reformas estruturais, o Banco Central insiste em uma política monetária asfixiante, privilegiando interesses financeiros em detrimento do desenvolvimento nacional e dos interesses do povo brasileiro”, afirmou em nota oficial (acesse aqui!).

O aumento dos juros, mesmo em um cenário de desaceleração inflacionária e menor taxa de desemprego dos últimos oito anos, demonstra que o Copom mantém a postura neoliberal que historicamente marca a atuação da instituição, ainda que tenha ocorrido a recente mudança na presidência do BC, agora sob o comando de Gabriel Galípolo.  “A manutenção dos juros nas alturas, agora agravada pelo novo aumento, drena recursos vitais dos cofres públicos — que poderiam ser destinados à saúde, educação e infraestrutura — para remunerar a especulação com uma dívida pública que cresce substancialmente todas as vezes que a taxa Selic é elevada, beneficiando apenas os rentistas”, complementa a nota da CUT.

A Selic é a principal referência para os títulos públicos. Estima-se que cada ponto percentual de aumento na taxa básica represente alta de aproximadamente R$ 50 bilhões na dívida pública por ano, segundo dados do próprio BC. De setembro de 2024 a maio de 2025, a Selic subiu de 10,5% para 14,75%, um aumento de 4,25 pontos percentuais, o que causa impacto na dívida pública em cerca de R$ 215,5 bilhões na dívida pública, o equivalente a cerca de 1,8% do PIB do país 2024.

Ainda de acordo com a nota da CUT, aumentar os juros no atual contexto econômico brasileiro representa uma política de Robin Hood às avessas, que transfere renda dos mais pobres para os mais ricos: “A taxa Selic elevada torna-se um mecanismo de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos e inviabiliza o crédito acessível para famílias e pequenas empresas, estrangula o consumo interno e freia a geração de empregos formais. Enquanto trabalhadores e trabalhadoras enfrentam o custo elevado do crédito ao consumidor, o sistema financeiro acumula lucros recordes”.

Diante dessa situação, a CUT e suas entidades filiadas reafirmam a campanha permanente pela redução da taxa de juros e pelo fim da autonomia do Banco Central. “A política monetária precisa estar alinhada ao combate às desigualdades, com juros menores, crédito direcionado a setores estratégicos e controle social sobre as metas inflacionárias. Reconstruir o Brasil exige enfrentar o poder dos banqueiros, que recebem lucros bilionários em detrimento dos interesses da maioria da população brasileira e do desenvolvimento sustentável do país”, finaliza a nota da Central, a qual o Sindipetro PR e SC assina embaixo.