Privatiza que piora

Copel apresenta proposta de acordo coletivo que retira direitos dos trabalhadores

Presidente da Copel Daniel Pimentel foi mantido no cargo após a privatização. - Copel

Nova face privada da Copel irrita trabalhadores

A Copel privada foi para a mesa de negociação com os sindicatos e mostrou sua mais nova face: a retirada de direitos de seus trabalhadores. Em dois dias (15 e 16), a bilionária empresa de energia paranaense apresentou um conjunto de propostas que retiram dos funcionários que não saíram no PDV os benefícios dos lucros bilionários. A empresa quer o fim do abono, demissão sem justa causa, acabar com adiantamento do 13o salário e das horas extras. Por outro lado, mesmo com lucro líquido de R$ 1 bilhão no primeiro semestre de 2024 (6,8% de crescimento), quer apenas o reajuste da inflação para os pouco mais de 3 mil funcionários.

De acordo com as entidades sindicais, a Copel privada negou novo plano de cargos e salários; adicional de linha viva, reajuste de diárias de alimentação, salário inicial para engenheiras e engenheiros de acordo com o piso nacional, adicional por tempo de serviço, gratificação de função, Gympass e Intervalo de almoço. O auxílio alimentação, auxílio educação e o piso de férias proposto são sem nenhum reajuste.

O que mais irrita os trabalhadores é o fim do abono e o reajuste salarial restringindo ao INPC. Para as entidades,isso quebra o princípio da isonomia, que é fundamental nas relações e na legislação trabalhista, substituindo pela competição pura e simples entre setores e entre o corpo funcional. “Os sindicatos não admitem que existam na prática trabalhadores considerados de primeira ou segunda classe”.

A proposta da empresa vai na contramão dos acordos coletivos deste ano. De acordo com o DIEESE, “análise de 166 negociações de reajustes da data-base setembro, registradas no Mediador até 10 de outubro, revela que 89,2% resultaram em ganhos acima da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INPC-IBGE). Trata-se do segundo melhor resultado em todo o período considerado neste Boletim, atrás somente de maio último”.

E dinheiro para a Copel não falta. O Relatório de Resultados do primeiro semestre além de apontar Lucro Líquido de R$ 474 milhões no 2T24, ainda publica que em 28 de junho, a Companhia efetuou o pagamento de proventos aos acionistas no montante de R$ 632 milhões, totalizando um Payout de 50%, em conformidade com a Política de Dividendos”.

Informações Copel / Reprodução Internet

 

O presidente da Copel, Daniel Pimentel, mantido no cargo após a privatização, disse que a empresa apresentou “mais um trimestre com sólido crescimento”.

 

Nova rodada de negociação
Nova rodada de debate acontece na próxima quarta-feira, 23/10. Neste ano, a Copel terceirizou a comissão de negociação.

 

Privatiza que piora para todo mundo
No dia 11 de outubro, uma tempestade provocou a morte de sete pessoas e danos na fiação elétrica de São Paulo, deixando cerca de 2,1 milhões de moradores da capital e região metropolitana sem energia. Após 100 horas, 90 mil imóveis ainda estavam sem luz, segundo a Enel, que assumiu a Eletropaulo após sua privatização em 2018. Casos semelhantes já ocorreram, como em novembro do ano passado, quando 4 milhões de pessoas ficaram sem energia por quatro dias.

Esse é mais um reflexo das privatizações, que vem sendo alertado por sindicatos e trabalhadores do setor elétrico desde que o governo de Jair Bolsonaro (PL) anunciou a venda da Eletrobrás. A venda do patrimônio público favorece apenas investidores e acionistas, que pressionam o corte de pessoal e reduzem investimentos em melhorias para obterem mais lucros. Em 2020, no Amapá, um blecaute foi resolvido apenas com a intervenção de trabalhadores da Eletrobrás, então estatal, após falhas da operadora privada Isolux.

Apagões como esses mostram como a privatização de setores estratégicos prejudica a população e a economia, fechando escolas e comércios. Todos saem prejudicados. Sem falar nos aumentos exorbitantes nas faturas, frequentemente relatados pelos consumidores.

Com a Copel, a situação não é diferente. A empresa tornou-se a concessionária de energia com mais reclamações registradas na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Entre setembro de 2023 e agosto de 2024, foram mais de 3 milhões de queixas, além de liderar o ranking nacional de insatisfação por interrupções no fornecimento, conforme dados foram revelados pelo Jornal da Globo.

De acordo com uma pesquisa feita pela Federação de Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), 60,5% dos produtores rurais entrevistados estão insatisfeitos ou muito insatisfeitos com o fornecimento de energia. O principal motivo é a frequência das quedas de energia. Os produtores rurais também criticam a demora no atendimento e as oscilações na rede elétrica.

Não poderia ser diferente. Segundo o Sindicato dos Técnicos Industriais no Estado do Paraná (Sintec-PR), a Copel já reduziu seu quadro de funcionários em 53,5% desde o início do processo de privatização, ainda no governo Beto Richa. Os lucros, no entanto, dispararam, alcançando R$ 22,2 bilhões em 2023, com metade desse valor destinado aos acionistas. No primeiro semestre de 2024, o lucro chegou a R$ 473 milhões, um aumento de 53,9%.

Parte desses ganhos provém de isenções fiscais que poderiam ser direcionadas em melhorias sociais. A mudança para uma gestão voltada ao lucro gera preocupações sobre uma constante piora na qualidade dos serviços e mais aumentos nas tarifas. Com a entrega na companhia, o governo do Paraná reduziu sua participação de 31,1% para 15,9%, enquanto o mercado financeiro controla 61,9% das ações, consolidando o foco da empresa no mercado. Em suma, a privatização traz prejuízos para todos.

 

Texto principal: Manoel Ramires, Brasil de Fato Paraná

Privatiza que piora para todo mundo: Juce Lopes, com informações da CUT