Diversidade e desigualdades em debate no 10º Congresso Regional Unificado

Terceira mesa do evento tratou das pautas de gênero e LGBTQIA+

Promover a formação para o combate aos preconceitos enraizados na sociedade e às injustiças de gênero no mercado de trabalho. Com esse objetivo, o 10º Congresso Regional Unificado dos Petroleiros e Petroquímicos do Paraná e Santa Catarina incluiu na sua programação a mesa de debates “Diversidade e Desigualdades” na tarde desta sexta-feira (16).

 

Primeiro a palestrar, Tiago Franco Teixeira, diretor do Sindipetro Unificado de São Paulo e membro da frente petroleira LGBTQIA+, alertou sobre os efeitos das violências simbólicas. “Todos nós temos diversos aspectos que podem ser, de alguma forma, alvo das violências simbólicas que trazem consequências de curto prazo. Precisamos ter sensibilidade, independente do que possamos achar. Temos que ter consciência de que nossa opinião é menos importante do que a condição objetiva dos trabalhadores que representamos”.

 

Na seara corporativa, o ativista chamou atenção para a mudança repentina de postura de gestores nas unidades da Petrobrás. “Os ventos mudaram e agora as nuvens têm outras formas. As ordens vêm de cima e gestores rapidamente se tornaram pró-diversidade, contra assédios, mas são posturas superficiais”, disse.

 

Tiago classificou as condutas tóxicas sobre diversidade em três vertentes. A “de cima” é tratar como uma questão de marketing. “Tá na moda e valoriza a marca. Permitir violências simbólicas é risco para o negócio. No fundo, não importa se você é mulher, gordo ou LGBTQIA+, mas sim se você trabalhar até a estafa”, explicou.

 

A segunda é denominada “de baixo” e está relacionada ao fanatismo religioso e à extrema direita. “Usam discurso baseado em termos como globalismo, ditadura gay e feminazi para se referir à diversidade e promover o boicote, mas também para se promover com o público que se identifica com o reacionarismo”.

 

Por fim, o “lateral”, que é olhar para o lado e achar que o debate da diversidade atrapalha e desvirtua questões mais importantes. “É um risco porque pode haver boicote à essa luta e demonstrar que as direções sindicais não estão engajadas com a diversidade. A pessoa pode não confiar que o sindicato está comprometido em combater aquilo que o aflige”, analisou.

 

Ao final de sua intervenção, Tiago apresentou propostas da frente petroleira LGBTQIA+ para serem debatidas nos grupos de trabalho dos congressos regionais dos petroleiros e petroleiras. Entre eles, a alteração na cláusula de inclusão do ACT que crie mecanismos para garantir que os compromissos da empresa sejam trabalhados, como comitês de diversidade, por exemplo.

 

Outras sugestões são tratar falta de acessibilidade como alerta de grau mais crítico de SMS, inserção de cláusulas de inclusão de diversidade sexual nos contratos de prestadores de serviços, inclusão de casais homoparentais na licença-maternidade/paternidade, tratamento humanizado para pessoas transexuais e transgêneros na AMS e criação do coletivo LGBTQIA+ na FUP.

 

Desigualdades
Para tratar da temática da desigualdade, a terceira mesa do congresso regional contou com a palestra de Bárbara Suely da Silva Bezerra, coordenadora do Departamento de Cultura do Sindipetro Norte Fluminense.

 

Ela iniciou a palestra com os conceitos de cultura, gênero e trabalho. “Cultura é um conjunto de ideias, comportamentos, símbolos e práticas sociais. Gênero é uma construção social para distinguir o masculino e o feminino. O trabalho, por sua vez, tem origem no latim “tripolium”, que é um instrumento de tortura. É definido por qualquer atividade física ou intelectual remunerada”.

 

A dirigente contou que a história do Brasil foi escrita por homens brancos que venceram. Portanto, não há registros precisos das mulheres. Citou algumas mulheres brasileiras de importância histórica, mas que não são comumente retratadas nos livros, tais como Teresa de Benguela (1750 – 1770), que assumiu a liderança de um quilombo após a morte do seu companheiro e instalou um parlamento; Bárbara de Alencar (1760 – 1832), mulher branca e rica que lutou por liberdade e diminuição dos impostos na Revolução Pernambucana; e Pagu (Patrícia Rehder Galvão – 1910 – 1962), revolucionária que liderou movimentos grevistas em portas de fábricas, foi militante do PCB e como jornalista entrevistou Sigmund Freud, pai da psicanálise, e participou da coroação do último imperador chinês Pu-Yi, de quem obteve as primeiras sementes de soja que foram trazidas ao Brasil.

 

Bárbara abordou a industrialização no Brasil e disse que no início do século 10 as principais fábricas eram de charutos. “Os donos perceberam que se contratassem mulheres, elas trabalhariam mais e receberiam menos. A primeira grande greve no Brasil aconteceu em 1917, durou 30 dias e foi comandada por mulheres, influenciadas pela luta pelo sufrágio universal na Inglaterra e a Revolução Russa”.

 

Para ela, quando a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi criada, a mulher já não servia mais para o trabalho. “Direitos, férias, 13º salário e jornada laboral reduzida. O trabalho com benefícios e carteira assinado passou a ser coisas de homem”.

 

Em relação à participação na Petrobrás, Bárbara afirmou que em plataforma são apenas 3% de mulheres a bordo. “Não é falta de capacitação, a gente não embarca porque não tem banheiro feminino, não tem fardamento feminino”.

 

Na conclusão, a dirigente disse que na posse da Direção do Sindipetro Paraná e Santa o fato de ter 24% de mulheres na nova gestão foi comemorado. “Mas as mulheres são 52% da sociedade. Se fizer o recorte racial a situação é ainda pior. O que existe é uma cultura opressora e a gente precisa combater para fazer uma cultura de direitos. E a gente está falando de direitos humanos”.

 

Por Davi Macedo