A tranquilidade que ele quer é para deixar o caminho livre para a privatização da Petrobrás.
A teimosia do presidente da Petrobrás, Pedro Parente, em manter o equivocado modelo de preço dos combustíveis atrelado à cotação internacional do petróleo não é à toa. Mesmo que essa insistência custe a sua cabeça no cargo máximo da companhia, Pedro Parente indica que irá até as últimas consequências para manter essa política que tanto massacra o povo brasileiro.
O mercado financeiro internacional, que parece ser o único e robusto aliado do governo Temer, enxerga em Pedro Parente um caminho acessível para entrar com tudo na área de combustíveis do país. Por parte do presidente da companhia, os sinais são mais do que claros. Tanto que, em outubro do ano passado, declarou que “se o mercado sorri para nós, podemos ir até lá e dar um beijo nele”.
Para além das metáforas promíscuas, as ações de Pedro Parente vão de encontro aos interesses do mercado. Desde que chegou ao comando da Petrobrás já foram entregues ao capital privado mais de 30 ativos estratégicos da empresa, como campos do pré-sal, sondas de produção, redes de gasodutos do Sudeste e do Nordeste, distribuidoras de gás, petroquímicas, termoelétricas e usinas de biocombustíveis.
Atrelado à privatização desenfreada, Parente determinou a subutilização da capacidade de refino das quatro refinarias que fazem parte do plano de desinvestimento da empresa, como estratégia de proporcionar um mercado para os importadores e potenciais compradores dessas unidades. Na Repar, uma das refinarias colocadas à venda, a capacidade de produção está em apenas 65%.
Com a redução induzida da produção interna, as importações de gasolina e óleo diesel dispararam. O principal mercado beneficiado é o dos Estados Unidos. Dessa forma, o Brasil exporta óleo cru e importa derivados, que têm maior valor agregado. Assim, sucateia suas próprias refinarias, ativos que Parente pretende privatizar, vendendo-os a “parceiros estratégicos da Petrobras”.
Se a Petrobras utilizasse sua capacidade total de refino, cerca de 2,35 milhões de barris/dia, seria capaz de atender quase toda a demanda de consumo no Brasil, estimada em 2,4 milhões de barris/dia. Mas Pedro Parente não está interessado na soberania energética nacional, pelo contrário. Quer abrir o mercado para atrair concorrentes, o que contraria a própria lógica empresarial.
Diante dos impactos da greve dos caminhoneiros, a Petrobras foi forçada a reduzir temporariamente o preço do diesel e a mudar sua política de preços para o combustível, que terá ajustes mensais e não mais diários. O caixa da empresa, segundo o governo, não será prejudicado, uma vez que haverá compensações da União.
O problema é que a interferência na política de preços dos combustíveis assustou o mercado, que teme o controle de preços como forma de sustentação do governo. Pedro Parente tratou logo de afirmar que a política de preços não vai mudar e que o modelo de “parcerias estratégicas” no refino continua. São formas de acalmar o mercado. É a tranquilidade que Parente precisa para privatizar.