Atividade alusiva ao Dia Internacional da Mulher, o Café com Debate já organizou duas rodas de conversa sobre o direito ao parto. As mulheres da Repar e da Usina do Xisto (SIX) tiveram a oportunidade de debater sobre o tema, compartilhando experiências e adquirindo novos saberes.
O Brasil é o país onde se mais realizam cesarianas. Na rede privada 84% dos partos são cesarianas; no SUS o índice chega a 40%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o índice de no máximo 15%. Na maioria dos países da Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, o parto normal é a regra. Por lá a cesariana é considerada um recurso de emergência.
Para tentar mudar a realidade dos partos no Brasil, a Agência Nacional de Saúde (ANS) implementou políticas públicas que incentivam a realização dos partos normais. Porém, a cultura obstétrica nacional e a falta de informação restringem a opção por procedimentos naturais.
As palestras das especialistas convidadas desmistificaram o parto natural e aprofundaram o debate entre as participantes. Na etapa da Repar houve o depoimento de Lorena, uma mulher que partilhou sua experiência de ter o primeiro filho em parto normal em hospital e optou por fazer seu segundo parto natural em casa. Para ela, o agendamento do parto é algo bastante complicado. “Alguém desconhecido combinou com seu corpo, e não com o seu bebê, sobre o dia para o nascimento. Isso gera muitos problemas, principalmente na amamentação”, contou. “As mulheres são mal informadas durante sua vida e achamos que o nosso corpo é só o que aprendemos na ciência. O básico do direito ao parto é o direito ao corpo e à nossa intimidade”, completa Lorena.
O compartilhamento das experiências a partir do relato das mulheres presentes enriqueceu as atividades. “Meu terceiro filho foi de cesárea, juntamente com laqueadura. Na época não se discutia sobre o parto humanizado. Cesárea é uma cirurgia, a sensação de anestesia foi ruim, pois causou inchaço e dificuldade de locomoção. Enfim, a recuperação do parto normal é bem melhor em relação à cesariana”, contou uma das participantes.
O debate deixou claro que a cultura médica atual, que muitas vezes coloca a cesárea como única alternativa às mulheres, só pode ser mudada com informação sobre os diversos tipos de procedimento. Foi unânime o sentido de desconhecimento sobre o tema para conseguir uma decisão que passe pela plena consciência sobre as condições do parto. Outro apontamento realizado pelas participantes foi sobre a questão financeira que envolve o parto. Mesmo os médicos recebendo o valor de tabela do plano de saúde, cobram taxas que vão de R$ 2 mil a R$ 6 mil para realização de parto normal e cesariana.
Na etapa de São Mateus do Sul foi apresentado o Projeto Aconchego, ligado ao Hospital e Maternidade Dr. Paulo Fortes, que propõe o desenvolvimento de potencialidades e autonomia das famílias bem como o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, por meio de ações de caráter preventivo, protetivo e proativo. Trata-se de um projeto de caráter permanente e gratuito para as usuárias do SUS, Particular e Convênio que tem como referência o fator diferencial para humanização em relação ao parto e a autonomia dos sujeitos. O projeto foi muito elogiado e mostra a necessidade de ampliar essa visão humanizada na medicina brasileira.
A ausência de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Neonatal em São Mateus do Sul foi bastante criticada pelas participantes. Uma das mulheres relatou que sofreu problemas de saúde e teve seu bebê prematuro. Devido à falta de estrutura hospitalar, seu filho teve que ser encaminhado para outra cidade e a mãe não pode acompanha-lo. A narrativa do sofrimento com a separação e a insegurança em relação à sobrevivência do seu primeiro filho, hoje com 10 anos, foi comovente. Apesar de todo esse tempo, São Mateus ainda não conta com UTI para recém-nascidos.
Do debate às políticas públicas
Os debates foram muitos proveitosos e trouxeram à tona as dificuldades sofridas pelas mulheres no momento do parto. Foi possível observar elementos que apontam para a construção de políticas públicas em relação ao parto. As conselheiras do Direito das Mulheres do Paraná Anacélie Azevedo e Rosane Dias assumiram a responsabilidade de levar o resultado dos debates para o Conselho. Uma medida de destaque é a necessidade de a violência obstétrica ser classificada como crime hediondo. Do mesmo modo, foi possível construir pautas para a mesa de negociação junto à Petrobrás a fim de buscar melhorias na AMS sobre o parto e a maternidade/paternidade.
Próximas etapas: Tefran e Tepar
Após as etapas da Repar e SIX, o Café com Debate chega às bases de São Francisco do Sul e Paranaguá. O tema em discussão desta rodada é o direito ao parto. A atividade no Tefran acontece no dia 14 de abril, próxima terça-feira, às 13h00. Já no Tepar será no dia 23/04.
O objetivo é levar a discussão deste tema relacionado a gênero de forma descontraída, em um ambiente agradável, com comes e bebes e conversas amigáveis, sem perder a essência do debate. A atividade é promovida pelo Sindipetro Paraná e Santa Catarina e faz parte dos eventos alusivos ao Dia Internacional da Mulher.
Marque em sua agenda e participe. Quem quiser, também pode levar o(a) companheiro(a), parentes e amigas(os).