Decisão do gerente geral da Repar de não parar unidade para manutenção causa o vazamento de até 30 toneladas de catalisador por dia para o meio ambiente.
A Unidade de Craqueamento Catalítico (U2200) da Repar tem despejado diariamente entre 25 e 30 toneladas de catalisador na atmosfera. A emissão atmosférica considerada “normal” é de cinco toneladas por dia. A U2200 é uma unidade antiga e sucateada, além do que o prazo da parada programada de manutenção foi estendido em um ano, acarretando em uma série de problemas, entre eles o possível furo do ciclone, de onde vaza o catalisador. A decisão de não parar imediatamente foi tomada após reuniões entre os gestores da refinaria, com o consentimento do gerente geral da refinaria, Luis Antônio Meireles.
O fato é grave, uma vez que o catalisador catalítico descartado contém diversos contaminantes, destacam-se metais pesados, reconhecidamente cancerígenos. Os trabalhadores e a população que vive no entorno da Repar estão expostos à poluição e o gestor parece não estar preocupado, não apenas pelo fato de não ter ordenado a imediata manutenção, mas também porque não há uma sistemática de avaliação aos riscos da saúde dos trabalhadores da Refinaria e dos moradores da região. A Higiene Ocupacional da refinaria chegou a realizar algumas medições no dia 05 de janeiro, mas o foco foi o particulado total, sem preocupação com a saúde, ou seja, não há um acompanhamento dos níveis de poeira “respirável”, sequer parâmetros ou medidas preventivas, como o uso obrigatório de máscaras, para evitar a inalação deste agente tóxico. Todavia, não há segurança, tampouco limite tolerável, para exposição ao catalisador contaminado por um longo período, como é o caso na Repar. Enquanto isto, grossas camadas de poeira se acumulam em várias áreas da Repar.
Descaso com a saúde e segurança
O Sindicato enviou ofício ao gerente geral onde alertou para os perigos do grande aumento na emissão de catalisador catalítico no ar e cobrou imediata parada da unidade para manutenção. A resposta foi de que a U2200 será paralisada para os reparos no dia 17 de janeiro – a previsão é que a parada dure 12 dias, oito dias depois da tomada de decisão de que não havia mais o que ser feito. Fica claro a falta de compromisso com a saúde dos trabalhadores, uma vez que ficarão 15 dias expostos aos riscos da inalação de catalisador. Para piorar ainda mais a situação, até hoje (14) não havia sido adotadas medidas de prevenção.
A decisão de retardar a parada ao máximo possível tem a exclusiva preocupação de manter a continuidade operacional (demanda de produto) e ganhar tempo para a programação da parada, o que poderia ser feito com a U2200 fora de operação.
Mais uma vez, a gestão do Sr. Meirelles se mostra bastante audaciosa com relação à segurança dos empregados. O que não percebe é que audácia no tratamento da segurança industrial é sinônimo de irresponsabilidade.
Unidade sucateada
A U2200 é uma unidade antiga e sucateada. Está em operação há 38 anos. Trabalhadores do setor relataram que ela é muita instável, o que dificulta o controle. Para piorar a situação, a gestão da refinaria decidiu em 2010 estender o prazo da parada programada de manutenção de 48 para 60 meses. A próxima parada deveria ter ocorrido em junho de 2014, mas só está prevista para acontecer em junho deste ano e ainda não está planejada. Mais uma ação baseada no Programa de Otimização dos Custos Operacionais (Procop) que vislumbra o lucro em detrimento da saúde e segurança.
Recentemente a unidade teve que ser paralisada para manutenção de emergência. O sistema de lubrificação parou de funcionar e durante o processo normal de partida, uma tampa do reator (stand-pipe) caiu. Não teve outro jeito a não ser abrir o stand-pipe para a manutenção, que foi do dia 21 de dezembro até 03 de janeiro. Uma equipe de aproximadamente 150 trabalhadores terceirizados foi contratada às pressas para executar o serviço. A decisão de partir a unidade sem a conclusão das pendências levantadas pelas equipes de manutenção e inspeção, foi uma decisão “economicista” que expôs, como era previsível, pessoas e meio ambiente a graves riscos, além do que só elevou os custos de manutenção.
Acidente previsível
Com tantos problemas na U2200, não era difícil imaginar que acidentes aconteceriam. A sorte dos trabalhadores na REPAR tem sido grande, considerando os cortes de gastos com reparos preventivos promovidos pelos gestores, mas nem mesmo a mais forte das mandingas seria capaz de evitar ocorrências naquela unidade.
A passagem de ano para um dos operadores foi de muita dor. No dia 30 de dezembro o trabalhador sofreu um acidente quando realizava a drenagem de uma torre (T2201) e teve 25% do corpo queimado. Todo acidente é um evento socialmente construído e, neste caso, os gerentes tiveram uma grande responsabilidade ao adiar as providências em relação à manutenção e segurança naquela unidade.
Os perigos do catalisador no meio ambiente
A maioria das refinarias de petróleo têm, na etapa final de seu processo produtivo, unidades de craqueamento catalítico, que são grandes fontes geradoras de poluentes atmosféricos, entre eles, o catalisador descartado para o ambiente. O catalisador descartado é caracterizado como Perigoso (Classe I) pela Norma ABNT NBR 10004:2004 e pode representar sérios riscos à saúde ao meio ambiente, por conter metais pesados e compostos cancerígenos. Um experimento realizado no CENPES – Centro de Pesquisa da Petrobrás – identificou que os valores de Níquel, Vanádio e Antimônio que contaminam o catalisador virgem estavam acima de limites estabelecidos por organizações de proteção à saúde ocupacional, a exemplo da ACGIH. A medida em que se aumentava o ciclo de reutilização do catalisador, verificou-se que também aumentava a contaminação por metais pesados e coque.
Chegaram notícias que haviam trabalhadores recolhendo o catalisador, que sedimentou no piso das unidades, através de varrição sem qualquer Equipamento de Proteção Individual (EPI) que evitasse sua inalação.
O que o Sindicato cobrou da Repar
1. A parada imediata da U-2200;
2. Monitoramento ambiental e ocupacional adequado, bem como orientações aos trabalhadores.
3. Fornecimento de EPI´s adequados;
4. Detalhamento das informações sobre a programação de parada;
5. Estudos epidemiológicos em populações sob influência da Repar, incluindo as comunidades vizinhas – há registros de presença de catalisador a cerca de 12 km das refinarias;
6. Reavaliação do Programa de Prevenção a Riscos Ambientais (PPRA) e respectivos Grupos Homogêneos de Exposição (GHE) com base na identificação, mapeamento e registro do Catalisador Catalítico Contaminado no Laudo Técnico de Condições Ambientais do Trabalho (LTCAT).