Grande parte das negociações coletivas no país segue garantindo aumento real para os trabalhadores, ainda que a inflação tenha avançado. De acordo com os dados mais recentes do Boletim De Olho nas Negociações, elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos (Dieese), 67,9% dos acordos ou convenções coletivas de trabalho registrados em maio deste ano tiveram reajustes salariais acima da inflação. O levantamento, feito com base nas informações do sistema Mediador do Ministério do Trabalho e Emprego, analisou ao todo 815 negociações.
Outros 12% dos acordos ficaram exatamente no índice da inflação, medido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC/IBGE). Já os reajustes abaixo do INPC representaram 20% das negociações de maio, o que significou uma elevação em relação a abril, quando esse percentual havia sido de 18,2%. Apesar da leve piora, o quadro ainda é mais favorável do que em anos anteriores, principalmente se comparado ao período da pandemia.
Para o economista Sandro Silva, coordenador do escritório regional do Dieese no Paraná, os dados demonstram que, mesmo diante da pressão inflacionária, os sindicatos têm conseguido manter um bom nível de reajustes nas campanhas salariais. “Desde 2023 a gente vem observando uma mudança de patamar nos resultados das negociações. Depois de anos muito difíceis, com o fim da política de valorização do salário mínimo no governo federal anterior e o impacto da pandemia, houve uma recuperação, especialmente influenciada pelo retorno dos aumentos reais no salário mínimo”, explica.
Contudo, o economista Silva ressalta que os meses de abril e maio registraram uma queda nesse desempenho. “Em fevereiro, por exemplo, 89% das negociações tiveram aumento real. Em abril, esse número caiu para 62% e em maio ficou em 68%. Isso tem relação direta com o aumento da inflação. No ano passado, começamos com inflação entre 3% e 3,5%. Agora estamos superando os 5%”, analisa.
Mesmo com esse cenário de pressão inflacionária, a expectativa do Dieese para o segundo semestre é positiva. A maioria dos reajustes neste ano supera a inflação e, segundo Silva, isso deve continuar ao longo de 2025. “A tendência é que a maior parte das negociações siga garantindo ganhos reais, embora o percentual de aumento seja menor do que o observado em 2024, quando o ganho real médio foi de cerca de 1,5%. Neste ano, deve ser um pouco menor, mas ainda assim positivo”, projeta.
O economista alerta para o mês de setembro, quando a inflação deve alcançar um pico por conta de efeitos estatísticos, como a saída da deflação de agosto de 2024 dos cálculos. “Devemos ter um impacto pontual negativo nas negociações dessa data-base, mas depois a inflação deve volta a recuar. A expectativa é de que a gente feche o ano com uma inflação em torno de 5,5%, ainda assim bem mais alta do que em 2024, que fechou em 4,77%”, aponta.