Muito além dos hematomas: a violência contra mulher não é só física!

O 25 de novembro é celebrado mundialmente como “Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres”; a data faz parte do calendário dos 21 DIAS DE ATIVISMO.

Quando se fala em violência contra mulher, muitas vezes, vem à mente a agressão física, as marcas pelo corpo, os hematomas, o feminicídio. Infelizmente, isso tudo é apenas uma ponta extrema de um ciclo violento sentido em diversos espaços pelas mulheres. Seja em casa, na rua, no trabalho, no transporte público, ou até mesmo em instituições, todas sentem na pele diariamente algum tipo de violência pelo simples fato de ser mulher.

O machismo estrutural naturalizou atitudes violentas e inaceitáveis, e isso nem sempre é percebido no cotidiano. Ora, claro que a violência física traz uma das maiores dores, claro que o feminicídio é uma das maiores barbáries. Mas nada começa “grande”.

Muitas companheiras vivem hoje um relacionamento abusivo sem perceber. Se encarregar sozinha ou da maior parte da rotina doméstica, como se fosse a única pessoa adulta responsável por aquele ambiente, traz sobrecargas físicas e psicológicas ao ponto de muitas desenvolverem transtornos psiquiátricos, como Transtorno de Ansiedade Generalizada ou Síndrome do Pânico, por exemplo.

E isso é violento!

 “Ele não me bate, mas…” Mas quebra objetos em discussões, insinua infidelidades sem fundamentos, priva a mulher do seu direito de ir e vir, ou de conviver com quem ela quiser, faz ameaças usando os filhos em possíveis separações. Enfim, são inúmeras as violências verbais, psicológicas, morais e patrimoniais que muitas sofrem diariamente.

E isso é violento!

E quando a violência não está no próprio lar, basta sair de casa para encontrá-la.  Levar o filho à escola, ir ao trabalho ou simplesmente sair para resolver algum problema pessoal e ser assedia por desconhecidos, e mesmo que fosse um conhecido, é extremamente violento! Ao mesmo tempo que isso é tão comum é também tão absurdo que um homem se sinta no direito de “elogiar”, tocar, ofender, humilhar, de “mexer” com uma mulher ou uma menina em público. O que faz um homem pensar que tem esse direito sobre o corpo feminino? Por que as mulheres passam por isso?

E isso é violento!

No ambiente de trabalho, pouco muda. As mulheres sempre são descredibilizadas, mesmo com alto nível profissional, sofrem diariamente com atitudes machistas de seus colegas. Quando engravidam, muitas são mandadas embora. No chão de fábrica, é comum companheiras relatarem o quanto sua capacidade profissional é colocada em xeque pelo simples fato de ser mulher. Não deveria ser assim. Essa rotina traz insegurança, raiva, crises de ansiedade. Ninguém deveria ir trabalhar sempre na defensiva, esperando um comentário inapropriado ou até mesmo um assédio.

E isso é violento!

Ter que pensar se pode ou não usar uma determinada roupa, se pode ou não frequentar determinados ambientes, sair em determinados horários… E que fique claro que essas reflexões não derivam do medo de ser assaltada, não é isso, a mulher tem medo de ser estuprada, e morta. Homens não se preocupam com isso, já para as mulheres isso é rotineiro, quase que “natural”…

E isso é violento!

“Ah! Mas não são todos assim”, dirão alguns desavisados, mas o fato é que as mulheres estão cansadas. Exaustas. E se é cansativo ser cobrado, imagine para elas, que vivenciam essas violências todos os dias. Esse problema não foi criado pelas mulheres. Está na hora de todos assumirem a sua responsabilidade no combate à violência contra a mulher.

Todas essas violências precisam acabar! Já!

A cada ano que passa, os números só pioram, parece que toda a luta é em vão. E quando chegam essas datas, publicamos textos, debatemos o assunto, e o resto do ano? Precisamos de mais, está na hora de olharmos para dentro de si, todos, principalmente os homens, e pensar o quanto estamos contribuindo para manter esse sistema patriarcal que mata mulheres e meninas diariamente. É preciso assumir a responsabilidade. Se omitir em situações como as descritas nesse texto também é compactuar com essas violências.  

A reflexão que queremos deixar para mais um ano de muita violência contra a mulher é “O que você está fazendo para de fato mudar esse cenário? Qual a sua atitude quando escuta um comentário machista de seu amigo, ou familiar? O que você faz quando o seu colega assedia uma mulher?”

21 DIAS DE ATIVISMO

No dia 25 de novembro é celebrado mundialmente o “Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres”. A data homenageia as irmãs Minerva, Pátria e Maria Tereza Mirabal. Ativistas e opositoras do governo autoritário da República Dominicana, elas foram brutalmente assassinadas pelo ditador Rafael Leónidas Trujillo, em 1960.

Em 1981, os movimentos feministas latino-americanos cunharam essa data para recordar a luta das “mariposas”, como eram conhecidas as irmãs na época, e fazer frente à violência machista. Anos mais tarde, em 1999, a ONU reconheceu o 25 de novembro como um dia internacional da luta contra a violência de gênero.

 
Desde 1991, a campanha Mundial pelos Direitos Humanos das Mulheres traz 16 dias de ativismo sobre o tema e abre debates importantes, onde a sociedade pode refletir sobre o assunto e buscar soluções para o problema. No Brasil, a campanha tem 21 dias, iniciando em 20/11, dia da Consciência Negra, até 10/12, Dia Mundial dos Direitos Humanos.

O Sindipetro PR e SC participa todos os anos da campanha 21 DIAS DE ATIVISMO e reitera a importância de debater e refletir sobre pautas tão importantes e lutar para o fim da violência contra as mulheres em todos os ambientes.

 

 
| Texto: Juce Lopes |