A condução política do governo Richa e deputados da situação conduzia a tarde de hoje (12) para uma tragédia. A coragem de servidores e da população retirou por enquanto os projetos de votação.
O dia 12 de fevereiro podia ter sido uma enorme tragédia contra os trabalhadores do serviço público do Paraná, da dimensão do episódio de 1988, dada a forma como os deputados ingressaram na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), com o auxílio de força policial, no local até então ocupado pelo movimento grevista.
No mínimo, podia ter ocorrido uma grave derrota para o funcionalismo, com a aprovação de dois projetos, encaminhados pelo governador Beto Richa, que contêm a retirada de direitos dos servidores públicos.
Desde o dia anterior, a votação em Comissão Geral dos dois projetos (06/2015 e 60/2015) estava anunciada para as 14 horas de hoje. Só não se sabia o local. Informações davam conta de que o Canal da Música/ TV Educativa estava cercado de policiais, assim como as ruas na região, sinalizando que a votação podia acontecer ali.
Entre os servidores, a deliberação do comando de greve foi bloquear todas as entradas da Alep e também do Tribunal de Justiça, para impedir que novamente os deputados usassem o espaço do restaurante da casa.
A indignação aumentava. Em um dos portões do estacionamento do Tribunal de Justiça, os manifestantes – com o consentimento de vigilantes e da própria PM – revistavam o porta-malas de cada um dos veículos dos magistrados que pudessem trazer algum deputado escondido para a votação. Toda a sorte de comentários era feita frente àquela situação, no mínimo, tragicômica.
Mas, pouco depois, ficou evidente que todas as informações buscavam desviar a atenção para a forma como os deputados entrariam na Assembleia. Em uma das esquinas, o cercado foi rompido por policiais e, em pouco tempo, os deputados ingressaram, sob escolta policial. A Polícia Militar e o Batalhão de Operações Especiais (Bope) fizeram um cerco em torno da entrada e da então nova entrada da Alep.
Naquele exato ponto, havia poucas pessoas. Em pouco tempo, uma multidão enfurecida se aglutinaria no local.
Os deputados, enfim, estavam lá dentro. Sombras velozes apareciam vez ou outra entre os corredores. E logo desapareciam.
Chuva, caos e o pátio reocupado
Sprays de pimenta foram lançados contra os manifestantes, a partir dos veículos do Bope.
Naquele momento caótico, a chuva engrossou, houve enfrentamento em alguns locais, com bombas de gás lacrimogênio. Mas o que parecia levar à dispersão deu lugar a um forte movimento da juventude e dos servidores. Difícil calcular o número de pessoas.
Uma senhora desmaiou. Uma advogada teve a perna ferida pela explosão de uma bomba. O que quase chegou a ser uma tragédia deixou vários manifestantes com ferimentos devido às bombas.
Mas a massa cresceu em direção ao pátio de entrada e também na rampa de acesso. Apesar das bombas, os manifestantes foram seguindo, pé ante pé. Braços para cima, flores levadas aos policiais, que iam refazendo seu alinhamento. As pessoas avançavam. Os policiais, que ao longo da semana tiveram respeito com o movimento, não davam mostras de buscar agressão. Por fim recuaram. Afinal sprays, falta de ar e bombas não estavam detendo aquelas pessoas.
Com a pressão e o pátio conquistado, primeiro veio a notícia de suspensão dos projetos até a segunda-feira depois do Carnaval (23). Logo, o site da APP-Sindicato expôs o documento, assinado pelo diretor geral da Casa Civil, na qual atesta que os dois projetos foram retirados de votação para reexame.
O caminhão de som, em frente ao Palácio Iguaçu, reuniu deputados da oposição, deputados da situação que romperam com o comando de Richa, lideranças sindicais e deputados federais. Muitas falas enfatizaram a importância do movimento e o caos que o Paraná estaria sujeito com as medidas.
Por ora, a multidão foi convocada a comemorar, ainda vigilante. Mas com as mãos carregadas de uma força que há muito não se via.
Pedro Carrano para o Sismuc