Mais de duzentos trabalhadores da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, protestaram na manhã desta quarta-feira (03) contra a falta de segurança e precarização da manutenção que causaram mais uma morte no Sistema Petrobrás.
O técnico de operação Cabral, que trabalhava na Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro, faleceu na noite do dia 31 de janeiro, por volta das 22 horas, após cair dentro de um tanque de combustível aquecido à temperatura de 75º C. O teto do reservatório cedeu, quando o operador subiu para aferir o nível de armazenamento. O corpo só foi localizado no final da tarde de ontem (02), após o esvaziamento do tanque.
Segundo o Sindipetro Caxias, os gestores da Reduc sabiam que a estrutura estava bastante comprometida por causa da corrosão e nada fizeram para garantir a segurança dos trabalhadores. Em 2013, durante uma inspeção de equipamentos na refinaria, foi recomendada, inclusive, a troca do teto do tanque onde o operador morreu. Em 2014, o Ministério do Trabalho interditou vários desses reservatórios devido ao nível acentuado de corrosão nas escadas de acesso e nos tetos. Ou seja, o que aconteceu na Reduc foi muito mais do que um acidente grave de trabalho, foi um crime. O Artigo 132 do Código Penal é claro: “expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente” é crime!
Para o secretário de saúde do Sindipetro Paraná e Santa Catarina, Luciano Zanetti, o clima na categoria está pesado. “O sentimento é de revolta porque nenhum acidente é fruto do acaso, mas sim uma construção social, uma cadeia de ações ou ausência delas que leva à tragédia. Neste caso da Reduc a falta de responsabilidade dos gestores com a segurança é ainda mais explícita porque já havia sido recomendada a manutenção há três anos, mas nada fizeram. A causa da morte está muito mais para um assassinato do que para um acidente de trabalho”, desabafou.
“Estamos muito preocupados com as condições de segurança na Repar e já vamos tratar da manutenção da refinaria em reunião ainda hoje com os gestores, sobretudo sobre a situação dos cerca de cem tanques de armazenamento”, complementou o diretor Alex Guilherme Jorge.
Ato na Reduc
A FUP e Sindipetro Caxias organizaram nesta manhã (03) um ato de repúdio ao acidente que levou à morte do trabalhador petroleiro Cabral. Esse foi o primeiro óbito do ano por acidente de trabalho.
Na entrada principal da REDUC, direção da FUP e do Sindipetro Caxias reuniram trabalhadores e chamaram atenção para a falta de segurança. Ao cobrar explicação, o coordenador da FUP, José Maria Rangel, disse que de nada adiantam os relatórios emitidos pela Petrobrás. Eles omitem a culpa da gestão e assim não há possibilidade de incriminá-los.
Comitê de SMS
Na terça-feira, antes do corpo do operador ser resgatado, o Comitê de SMS do Conselho de Administração da Petrobrás, que é coordenado pelo conselheiro eleito Deyvid Bacelar, esteve na refinaria para ouvir os trabalhadores e os gestores sobre o acidente. Vários relatos confirmaram as denúncias do sindicato sobre as condições precárias de segurança dos tanques, que, além do processo acentuado de corrosão, não têm iluminação adequada, pontilhão (passarela para acesso), corrimão e guarda-corpo.
O conselheiro solicitou à Reduc os relatórios da inspeção de equipamentos com recomendações para o tanque onde o operador caiu, bem como notas de manutenção que possivelmente tenham sido abertas, relatórios de inspeção de segurança do SMS, atas da CIPA, autos de infração do MTE, entre outras informações referentes ao tanque e demais reservatórios. Deyvid também cobrou da Gerência Executiva do Refino e do SMS Corporativo que seja proibido o acesso ao teto dos tanques da Reduc até que as estruturas metálicas sejam vistoriadas e identificadas as causas do acidente.