Prejuízos com depreciações feitas pela Petrobrás são 17 vezes maiores do que perdas com corrupção

Em um evento inédito nesta quarta-feira, 22, após a Petrobrás ter divulgado o balanço de 2016, a FUP e sua assessoria econômica realizaram uma apresentação ao vivo pelo facebook, denunciando a lógica entreguista dos gestores da empresa e se contrapondo com dados técnicos aos resultados financeiros apresentados pela companhia. Além de analisarem publicamente os principais dados do balanço da Petrobrás, o coordenador da FUP, José Maria Rangel, e os economistas Cloviomar Cararine, Rodrigo Leão e Eduardo Costa Pinto responderam às perguntas dos internautas. A apresentação teve um alcance de mais de 40 mil pessoas, ao longo dos 60 minutos de transmissão.

 

Logo no início, a assessoria da FUP destacou que os investimentos realizados entre 2007 e 2013 foram fundamentais para que o Pré-Sal possa hoje representar mais de 50% da produção da Petrobrás, com custos cada vez menores, que hoje giram em torno de 8 dólares por barril. Essa produção teve um impacto preponderante para os excelentes resultados operacionais que a estatal atingiu em 2016, mesmo com a gestão jogando contra a empresa. Além do lucro operacional de R$ 17,1 bilhões e da produção recorde de 2,94 milhões de barris diários de petróleo no final de dezembro, a Petrobrás registrou um aumento de 4% na geração de seu caixa operacional, chegando a 90 bilhões de barris de petróleo.  

 

Além disso, a produção dos campos do Pré-Sal aumentou consideravelmente a participação do óleo nacional na carga processada pelas refinarias (92% em 2016), reduzindo as importações e melhorando a qualidade e o rendimento da gasolina e dos demais derivados. “Tudo isso só foi possível em função dos investimentos feitos até 2013, o que coloca em xeque a política da atual gestão de reduzir drasticamente os investimentos e vender ativos”, destacou o técnico do Dieese Cloviomar Cararine.

 

O balanço de 2016 aponta cortes de 32% nos investimentos da Petrobrás e novos ajustes contábeis que reduziram os preços de seus ativos em R$ 21 bilhões, os chamados “impairments”. Para os assessores da FUP, essas medidas estão diretamente relacionadas ao prejuízo de R$ 15 bilhões registrado pela empresa. “Por três anos consecutivos, a companhia apresentou prejuízos e neste período realizou impairments de R$ 112 bilhões”, ressaltou Cararine, lembrando que esse valor é 17 vezes maior do que o montante que a empresa declarou em seu balanço de 2014 como perdas causadas pelos crimes de corrupção. “Nenhuma outra petrolífera no mundo utilizou baixas contábeis de forma tão recorrente como fez a Petrobrás, ainda mais com base em premissas tão voláteis, como preço do barril do petróleo, variação cambial e taxas de juros”, afirmou.

 

O economista e professor da UFRJ, Eduardo Pinto, desmistificou a narrativa da gestão de Pedro Parente, de que a crise financeira da empresa é um problema estrutural que implica em vender ativos. Ele questionou a meta da diretoria de reduzir em mais de 50% a relação dívida líquida/Ebtda, que era 5,3 em 2015 e passará para 2,5 em 2018. Uma “redução draconiana” que força a venda de ativos. “É uma estratégia deliberada da atual administração da Petrobrás, que joga contra o país e a própria empresa, já que vai perder caixa no futuro, se desfazendo de ativos estratégicos. Não é a toa que diversas petrolíferas no mundo estão hoje vendendo ativos para comprar campos do Pré-Sal”, revelou.

 

Rodrigo Leão, economista e mestre em Desenvolvimento Econômico, afirmou que a estratégia dos gestores de vender ativos, reduzir investimentos e sair do Pré-Sal dialoga diretamente com os interesses do governo de atrair investimentos estrangeiros, além de facilitar o acesso das grandes petrolíferas às reservas de petróleo brasileiras. “O setor de exploração e produção, que é a área nobre da companhia, já sofreu redução de 25% em seus investimentos entre 2015 e 2016, o que significa um corte de R$ 16 bilhões. O Pré-Sal é hoje um ativo que todas as empresas de petróleo estão de olho. O que a atual gestão está fazendo é abrir mão de ser protagonista destas reservas”, ressaltou.

 

O coordenador da FUP, José Maria Rangel, destacou que na greve de 2015, os petroleiros já alertavam que por trás do falso discurso do combate à corrupção, o que sempre esteve em pauta foi a entrega do Pré-Sal e a fragmentação da Petrobrás para atender aos interesses internacionais. “É preciso que fique claro que o problema da Petrobrás não é corrupção e sim os ataques que está sofrendo pela própria gestão, através dos drásticos cortes de investimentos e vendas de ativos, que estão acabando com a empresa. Para nós, cidadãos de bem deste país, qualquer real que é desviado é motivo de indignação. Ainda mais quando se trata dos bilhões que foram desviados pelo alto escalão da Petrobrás, criminosos que hoje se encontram em liberdade enquanto milhares de trabalhadores estão desempregados pelo desmonte que a Lava Jato provocou na indústria nacional”, afirmou.

 

“A crise que a Petrobrás sofre é a mesma crise que as outras empresas do setor sofrem, em função da queda dos preços do barril do petróleo. Sob a falácia de combate à corrupção, a direção da Petrobrás está levando a nossa empresa para um caminho sem volta. Estão sendo paralisadas atividades que são vitais para a companhia, como é o caso da perfuração. Os estragos que estão sendo feitos são algo que vamos levar anos para recuperar. É bom que toda a sociedade saiba disso. A direção da empresa tem que vir a público explicar o porquê de estar na contramão do mundo. Por que ela não quer o Pré-Sal quando o mundo inteiro quer? Por que deprecia seus ativos a ponto de abrir mão de R$ 112 bilhões em três anos?”, questionou o coordenador da FUP. 

 

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