Demanda reduzida é artifício para reduzir índices de horas extras devido à falta de efetivo.
Em mais um episódio de total desdém com a saúde e vida dos brasileiros, principalmente os mais vulneráveis, no último domingo (29), Jair Bolsonaro enfatizou que o valor da vida está subordinado aos interesses econômicos, negligenciando todos os argumentos científicos e as recomendações de seu próprio Ministério da Saúde.
O indivíduo supracitado fomenta um genocídio à classe trabalhadora. Em mais uma das suas “memoráveis” retóricas, chega a utilizar o mais imbecil dos argumentos para tentar justificar o seu posicionamento de defender os interesses econômicos a qualquer custo, com a frase “todos nós iremos morrer um dia”.
Como o vírus bolsonarista tem alta taxa de contágio e atinge todas as esferas de poder, a gestão da Repar segue a mesma premissa de priorização do lucro imediato, a qualquer custo. Em breve as consequências e prejuízos poderão ser muito maiores, talvez irremediáveis.
Com a intenção de enxugar o quadro de funcionários, a empresa utilizou um método denominado O&M (Organização & Método), que reduziu em torno de 20% os postos de trabalhos operacionais. Disfarçado de “otimização” dos recursos humanos da companhia, tal método foi aplicado em 2017 e diminuiu o número de empregos na área operacional. A realidade é que foi feito para adequar o efetivo à redução de trabalhadores desligados da empresa por conta do PIDV (Plano de Incentivo à Demissão Voluntária).
O O&M é considerado inadequado para processos contínuos e não é reconhecido pelos sindicatos. Sua aplicação no Sistema Petrobrás foi permeada pela ausência de transparência e malabarismos tecnicistas para adequá-lo às literaturas aleatórias que tratam do tema.
Aglutinação de padrões e cronometragem de operações, assim como muitos outros artifícios inescrupulosos, foram utilizados para justificar uma ordem irresponsável de redução de posto de trabalho. A falta de transparência é ratificada pela própria gestão que pede segredo de justiça para o tal estudo.
Demanda Reduzida: a história se repete
Você entraria num avião que não tivesse o co-piloto? Mesmo num vôo de 40min, tipo de Curitiba a São Paulo? Você arriscaria sua vida assim?
Pois é, algo semelhante ocorre hoje na Repar. Unidades que contém diesel, hidrogênio e H2S a 110 kgf/cm2, ou unidades que contém cloro, ou aquelas que armazenam GLP, todas ficam sem técnicos de operação para atuar no controle de emergências, durante um turno.
É o que chamam de “demanda reduzida”. Algo previsto no estudo de efetivo chamado O&M, de 2017. A intenção é a mesma. Não repor o efetivo por conta do novo PDV em andamento, cuja previsão de saída é de aproximadamente 10% dos trabalhadores próprios da área operacional.
De 2017 para cá, muita coisa mudou nas unidades operacionais, como novas ferramentas de trabalho, procedimentos e rotinas que foram implantadas. Nesses quase 3 anos, a realidade é bem diferente.
Dessa forma, os índices de horas extras só aumentam, fazendo com que alguns gerentes resolvam simplesmente deixar unidades de processo sem pessoal suficiente para operar com segurança.
Em uma trama ensaiada, gestores locais usam de uma dose de risco com uma boa pitada de irresponsabilidade para adequar os índices de horas extras para receberem o tal “subornus”. Cortam efetivos sob a escusa da demanda reduzida.
A aplicação da demanda reduzida foi feita nos moldes obscurantistas, como de costume nesses “novos tempos” de Petrobrás. A força de trabalho foi simplesmente informada, na calada da noite, ou melhor, entre feriados de natal e ano novo, sem regras claras, sem padrões, sem o menor sentido e sem a menor responsabilidade com a segurança e saúde dos trabalhadores.
Há uma alteração significativa nas condições de trabalho previstas, tanto em relação a saúde ocupacional, quanto aos riscos inerentes da própria atividade do refino, principalmente no caso de combate as emergências. Essa atitude colocada como experimental na Repar, com a intenção de ampliação para outras unidades da Petrobrás, extrapola todos os limites da irresponsabilidade com a saúde e segurança dos trabalhadores, da própria unidade e de comunidades do entorno. A equação da lógica de redução de custos a partir da ampliação da margem de risco da unidade, se assemelhando ao pensamento do “indivíduo acima citado” e praticada pela gestão da Repar, é a fórmula para a tragédia anunciada.
Como se não fosse o suficiente colocar a segurança na corda bamba, a gestão da Repar desestabiliza ainda mais esta situação já caótica, utilizando a demanda reduzida em turno ampliado de oito para doze horas, amplificando ainda mais os riscos.
O que fazer?
A rotina da categoria deve ser de resistência e denúncia dessas imposições absurdas que reduzem os efetivos e aumentam os riscos de acidentes. Relatórios de turno, ausência de padrões que descrevam as atividades em demanda reduzida, falta de pessoal para atuar na EOR, por exemplo, devem ser encaminhados ao sindicato (confira o modelo de relatório de denúncia no final desta matéria). As denúncias subsidiarão as ações do Sindicato.
Precisamos estar juntos em mais essa luta. O máximo de informação possível é necessário para o Sindicato fazer as denúncias cabíveis. Unidos somos mais fortes!
Medidas junto ao MPT
Ainda sobre efetivo, o Sindipetro Paraná e Santa Catarina ofereceu duas denúncias ao Ministério Público do Trabalho da 9ª Região (MPT-PR). A primeira, de 2013, apresentou um dossiê com cerca de 500 páginas que detalha, setor por setor, a carência de trabalhadores na refinaria. A segunda, de 2017, questiona a redução do quadro de funcionários por conta do O&M.
O procurador responsável aglutinou ambas denúncias em um só procedimento, que está em andamento no MPT-PR.
Modelo de Formulário de Denúncia
Nome: (pode ser anônimo)
Data:
Turno:
Setor:
Demanda reduzida em quais áreas:
Tarefas que forma realizadas em demanda reduzida:
Quantidade de membros da EOR no setor:
Tarefas que ficaram pendentes para o próximo turno: