A noite que antecedia a madrugada mais gelada do ano até agora não foi suficiente para esfriar os ânimos dos militantes da democracia e dos direitos trabalhistas. Um público de aproximadamente 50 pessoas se agasalhou e foi até o auditório do Sintracon Curitiba para participar do seminário promovido pelo Sindipetro PR e SC, Sindiquímica-PR, mandato do deputado estadual Tadeu Veneri e da entidade anfitriã.
Em todas as exposições, o consenso de que os trabalhadores vivem um período de trevas, com uma agenda liberal de retirada de direitos sendo imposta. “Tramitam no Congresso Nacional 55 projetos de lei que acabam ou reduzem direitos trabalhistas e civis. O pior deles, sem dúvida, é o PLS 30, que já foi aprovado na Câmara sob o número 4330. Ele libera a terceirização até na atividade-fim das empresas, ou seja, possibilita que todo empregado seja terceirizado. Venho de uma categoria totalmente terceirizada e conheço os efeitos dessa política de precarização de direitos”, alertou Regina Cruz, presidente da CUT-Paraná.
O deputado Veneri fez uma análise conjuntural sobre política. “A aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff não é uma derrota apenas de um partido ou de uma bancada. É a derrota de todo o campo de esquerda da política brasileira”. Para ele, o PT errou ao deixar de fazer o confronto às forças conservadoras. “Ao invés de fazer o enfrentamento, como, por exemplo, uma apuração das irregularidades nas privatizações, optou-se por uma política de alianças. Assim, o campo conservador se reconstruiu muito rápido. Não apenas o movimento Passe Livre, mas principalmente ele, fez uma sinalização para a direita de que era possível colocar o povo na rua. Depois as multidões foram apropriadas por outros movimentos, que na verdade pediam mais estado, com reivindicações por mais educação, mais saúde. Educação padrão Fifa, saúde padrão Fifa. Reivindicações que não soubemos trabalhar”.
Ainda na exposição de Veneri, as reivindicações transformaram-se na bandeira de combate à corrupção. “Desde 64 a direta não conseguia ir para a rua, talvez por terem vergonha de colocar uma pauta reacionária. Aí você deu para a direta a pauta do combate à corrupção e os movimentos inflaram. Vencemos a eleição em 2014, mas não conseguimos governar, pois foi eleito o pior Congresso possível”. O deputado concluiu dizendo que ao longo desses 14 anos no poder, o PT perdeu o contato com suas bases e deu margem para o movimento de oposição crescer. “Perdemos o debate ideológico na sociedade. Nosso desafio agora é recompô-lo”.
O presidente do Sindipetro PR e SC, Mário Dal Zot, apontou o mercado financeiro internacional como o pilar do golpe político-judiciário no Brasil. “Uma série de medidas tomadas pelos governos do PT desagradaram o mercado. Até 2013 o governo era forte e controlava os anseios do mercado, mas enfraqueceu em 2014 e acabou sendo controlado. A política de conteúdo nacional, que obriga as empresas que fecharam contratos com a Petrobrás a fabricarem equipamentos no Brasil, desagradou o mercado, que só visa o lucro. Ficou mais caro produzir navios e plataformas no Brasil do que em Singapura, mas gerou emprego e renda por aqui”, apontou Dal Zot.
Para Dal Zot, a lei da partilha na área do pré-sal foi outra afronta ao mercado. A legislação diz que a Petrobras deve atuar como operadora única dos campos do pré-sal, além de possuir participação obrigatória de, no mínimo, 30% nos grupos de exploração e produção. “O mercado não engoliu porque a partilha destina boa parte da riqueza para áreas sociais, como saúde e educação, retirando do lucro das empresas”. Ainda de acordo com Mário, o governo errou ao apoiar a mudança na lei. “O PL 131, proposto pelo tucano José Serra, retira da Petrobrás o direito de ser operadora exclusiva no pré-sal e foi aprovado a partir de um acordo com o governo e com voto contrário do PT. Se alguém tinha dúvida de quem governa o Brasil, essa dúvida acabou ali”, ironizou.
O coordenador do Sindiquímica Paraná, Gerson Castellano, fez uma abordagem geopolítica em relação ao golpe no Brasil. “Países são invadidos, governo são depostos e pessoas são mortas por causa do petróleo. Seria muita inocência achar que o Brasil estaria livre disso. A maior reserva do mundo é a da Venezuela e os ataques ao governo daquele país são coincidência? Não, é geopolítica do petróleo. O pré-sal é a terceira reserva mundial comprovada, com possibilidade de passar a Arábia Saudita e até a Venezuela”, afirmou.
Para ele, o país tem muito a perder com a mudança na lei da partilha. “Dizem que é muito caro extrair o petróleo no pré-sal. Mito! O custo de produção pela Petrobrás é de US$ 8, numa cotação atual de US$ 47. Se cair a partilha e retomar o regime de concessão, vamos receber muito menos, porque outras petrolíferas, como a Exxon e a Chevron, produzem a US$ 20. Os ataques são para tirar esse petróleo do país, por isso essa campanha midiática para destruir a imagem da estatal. Precisamos mostrar para a sociedade que a Petrobrás é forte, robusta e tem que estar nas mãos do estado brasileiro. Temos que mostrar o quanto a sociedade vai perder em investimentos em saúde e educação caso volte o regime de concessão”, alertou.