Em memória das vítimas do trabalho
O ano de 1969 é lembrado mundialmente pela ascensão do movimento flower power, slogan usado pelos hippies nos anos 60 até o começo dos anos 80 como um símbolo da ideologia da não-violência e de repúdio à guerra do Vietña, que culminou na realização do Woodstock, o mais famoso festival de música de todos os tempos.
Mas nem tudo foram flores naquele ano. Uma explosão em uma mina da cidade de Farmington, no estado da Virgínia – EUA, em 28 de abril de 1969, deixou 78 trabalhadores mortos. Por iniciativa do movimento sindical canadense, a data do trágico acidente passou a ser lembrado como o Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que adotou, em 2003, o 28 de abril como Dia Mundial em Memória das Vítimas, anualmente são registrados cerca de 270 milhões de acidentes no trabalho. Aproximadamente 2,3 milhões desses acidentes resultam em mortes. No Brasil, segundo o relatório da OIT, são 1,3 milhão de casos, que têm como principal causa as más condições nos locais de trabalho. Ressalta-se que os números são oficiais e não levam em consideração o mercado de trabalho informal (trabalhadores sem registro em carteira) e os não notificados.
Segundo o estudo da OIT, o Brasil ocupa o 4º lugar em relação ao número de mortes, com 2.814 óbitos por ano. O país perde apenas para China (14.924), Estados Unidos (5.764) e Rússia (3.090). Ainda de acordo com a OIT, cerca de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, 2,8 trilhões de dólares, são perdidos por ano em custos diretos e indiretos devido a acidentes de trabalho e doenças relacionados ao trabalho. Só no Brasil, de acordo com dados da Previdência, entre 2008 e 2013 foram gastos R$ 50 bilhões.
Os números da OIT ainda revelam que quase 6,5 mil pessoas morrem diariamente por causa de acidentes no trabalho. Enquanto escrevia essa matéria, neste dia 14 de abril, chegava a notícia de que um haitiano que trabalhava em uma empresa de reciclagem no município de Pinhais perdeu a vida ao cair de uma altura de oito metros. O caso evidencia o descumprimento das normas de segurança. A NR 35, que regulamenta o trabalho em altura, determina que deve-se utilizar o cinto de segurança do tipo paraquedista para toda atividade realizada acima de dois metros do chão.
Enquanto a impunidade diante dos casos de negligência das regras de segurança predominar, as flores estarão sempre presentes no dia 28 de abril, não para celebrar a cultura da não-violência, muito pelo contrário, mas para lembrar das vítimas do trabalho.
Mortes na Petrobras
Se os números globais assustam, no Sistema Petrobrás não é diferente. Desde 1995, são mais de 360 petroleiros mortos no trabalho. Desde janeiro de 2014, quando a Petrobrás aprovou o primeiro PIDV, já perdemos 36 companheiros mortos em acidentes de trabalho. Recentemente, uma unidade da Rlam e duas plataformas da Bacia de Campos sofreram acidentes graves, em consequência da falta de segurança que, absurdamente, tornou-se rotina no Exploração e Produção, nas refinarias, nos terminais e em todas as áreas operacionais.
Seminário na UFPR
Em alusão ao 28 de abril, o Núcleo de Prática Jurídica e Projeto de Extensão Acesso à Seguridade Social da UFPR e o Sindipetro Paraná e Santa Catarina realizam o seminário “Em memória das vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao Trabalho”. O evento será realizado nesta quinta-feira (28), às 18h30, na Faculdade de Direito da UFPR (Praça Santos Andrade, 50 – 1º andar – Sala 101) e vai reunir especialistas em saúde do trabalhador e profissionais da área para abordarem sobre os desafios para melhorar as condições de segurança no ambiente e nas relações de trabalho.
Estarão no debate o psicólogo e professor da UFPR Márcio Ferracioli; o advogado e também professor da Universidade Sidnei Machado; Maria Carolina Leal, representante do Centro Estadual de Saúde do Trabalhador (CEST) e Ana Fideli, secretária de saúde do Sindicato dos Bancários de Curitiba. A mediação ficará ao encargo do companheiro Luciano Zanetti, trabalhador petroleiro e dirigente do Sindipetro PR e SC.
O evento terá certificação pela UFPR mediante a participação e inscrição prévia pelo seguinte link: