Crônica

Sonhar, lutar e resistir. Até a vitória, sempre!

Ela, petroleira da Repar; ele, petroquímico da Fafen-PR. Além de trabalhadores da indústria, ambos são fotógrafos e formam uma bela família com a filha adolescente. Em apenas duas frases, já se percebe uma história interessante, com características comuns, mas que ganha mais profundidade conforme se desenvolve.

Gisele e Marco compartilham não apenas a profissão, mas também a consciência de classe. Sabem qual é seu lugar no mundo. Como disse Chico Science: “o homem coletivo sente a necessidade de lutar”.

Ameaçados pelo avanço do neoliberalismo, que consome vidas e almas, eles enfrentaram, junto com a classe trabalhadora brasileira, o ímpeto privatizador que se intensificou no país após o golpe de 2016. A ganância capitalista, apoiada pelos entreguistas no poder, almejava se apoderar de todo o patrimônio nacional, especialmente do Sistema Petrobrás, nossa joia da coroa.

Experiências neoliberais da década de 90 já mostravam que a privatização em bloco é mais complicada. Aos poucos, sem causar alvoroço e contando com o apoio da mídia, o desmonte é mais seguro.

Primeiro, foi-se a rede logística, com os dutos da Transpetro e os postos da BR Distribuidora. Agora, pagamos aluguel para usar uma estrutura que outrora era nossa (Ah, Raulzito, seu profeta maldito!). Simultaneamente, a Petrobrás perdeu quase todos seus ativos internacionais e boa parte das reservas de petróleo.

Mas ainda não era suficiente. Retroceder até voltar a ser colônia parecia ser o plano. Refinarias foram colocadas à venda, e perdemos algumas. Subsidiárias de outros setores, como o de fertilizantes — tão necessários para um país cuja principal atividade econômica é a agricultura — estavam sendo entregues a preço de banana. A conjuntura internacional, no entanto, atrapalhou as intenções colonialistas. Pandemia e guerras interferiram no processo. O que não se pôde vender, como a SIX, a RLAM e a RMAN, foi fechado ou arrendado.

É aqui que voltamos aos nossos protagonistas. Gisele e Marco foram registrados em uma foto, no saguão do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR), durante audiência sobre o fechamento da fábrica e a demissão maciça, em 2020. Olhares tristes demonstravam a preocupação com o que estava por vir. Dezenas de famílias de trabalhadores, com seus jalecos laranjas estampando a frase “Fafen-PR Resiste”, estavam lá.

A longa greve dos petroquímicos não foi suficiente. O cenário daquela época recente era amplamente desfavorável, e pouco importava a demissão de aproximadamente mil trabalhadores e suas consequências. A Fafen-PR fechou suas portas. Contudo, dizem que a única luta perdida é aquela que se abandona. E, como sabem todos aqueles que acompanharam essa trajetória, abandonar nunca foi opção para o movimento sindical petroleiro.

Durante quatro longos anos, a frase “petroleiros e petroleiras: luta e resistência!” ecoou pelos quatro cantos do Brasil. Ações de solidariedade durante a pandemia, trabalho constante de base, alianças estratégicas e tantas outras iniciativas passaram a fazer parte da rotina dessa categoria que não luta apenas por seus empregos, mas também pela soberania nacional.

A missão foi árdua, mas a luta e a resistência prevaleceram. Recentemente, Gisele e Marco aparecem em uma nova foto, similar àquela de 2020, mas agora na celebração da reabertura da fábrica: a Fafen-PR resistiu!

Que venham os novos tempos!

PS* Gisele e Marco são excelentes fotógrafos, mas nesta história estiveram do outro lado das lentes.

Por Davi Macedo

Fotos: Gibran Mendes (2020) e Paulo Neves (2024).