Trabalhador do Tepar teve perna dilacerada em acidente, mas foi obrigado a voltar para o trabalho no dia seguinte

Acidente ocorreu no mesmo dia em que petroleiros de todo país protestaram em memória de mais uma vítima fatal no Sistema Petrobrás.

 

 

Um caso de irresponsabilidade abissal e de desprezo à vida por parte dos gestores chocou os trabalhadores do Terminal Transpetro de Paranaguá (Tepar). Na tarde de quinta-feira (24), em operação de bomba de combate a incêndio no píer, um petroleiro do setor privado, contratado pela empresa Manserv como mecânico, sofreu um grave acidente que causou longo rasgo em sua perna direita.

 

A precarização da segurança veio à tona imediatamente. O trabalhador teve que ser deslocado na maca pela equipe de atendimento de emergências até o ambulatório por causa da falta de socorristas e de ambulâncias no Tepar. Ainda no píer, o gerente setorial Luiz Felipe Zanette assediou o trabalhador com perguntas sobre o acidente.

 

No ambulatório ocorreram os primeiros socorros e o atendimento foi rápido e eficaz, segundo apurado pelo Sindicato. Em seguida, foi deslocado para uma Clínica de Paranaguá. O médico que o atendeu emitiu atestado com afastamento do trabalho por dois dias.

 

Cabe lembrar que o acidente no Tepar aconteceu no mesmo dia em que petroleiros de todo país protestavam em memória do caldeireiro José Arnaldo, mais uma vítima fatal no Sistema Petrobrás.

 

Ainda na noite de quinta, o preposto da Manserv no Tepar entrou em contato via telefone com o acidentado e exigiu o retorno ao trabalho já nesta sexta-feira (25) para prestar somente serviços administrativos, além de prestar esclarecimentos aos gestores da Manserv e Transpetro.

 

O trabalhador foi levado pelo preposto até o Terminal no início da manhã e por lá permaneceu até por volta das 12h30, mesmo com o curativo encharcado de sangue. O dirigente do Sindipetro PR e SC Jordano Zanardi entrou em contato com os gestores e cobrou o cumprimento imediato do atestado. Só então o acidentado foi liberado para retornar a sua casa.

 

Para completar o verdadeiro show de horrores, os gestores do Tepar fizeram um DDS (Diálogo de Segurança) na manhã desta sexta. Por mais de uma hora, Luiz Felipe Zanette e o gerente de operação e manutenção Maurício Shiraishi falaram sobre o Terminal ser um local extremamente seguro, com recordes de produção e lucro, além de que o “leve incidente” ocorreu com um funcionário experiente e que todos precisam ter mais atenção, já buscando culpabilizar o acidentado, como é de praxe no Sistema Petrobrás.

 

Quem trabalha no Tepar sabem bem o perfil dessas duas figuras. Zanette é um jovem gerente que coloca sua ambição por galgar cargos acima da segurança e integridade física, sobretudo daqueles do setor privado. Maurício, por sua vez, faz o tipo “bagre ensaboado”. Está no cargo há uns quatro ou cinco anos, é bom de conversa, mas não resolve nada. É um dos culpados pelo sucateamento da unidade. Aliás, ele será transferido para outro local e esta sexta-feira é seu último dia no Tepar. O legado que deixa é de redução do efetivo, precarização das condições de trabalho, aumento do risco operacional e iminência de acidentes de grandes proporções.

 

 

A imprudência como regra

Infelizmente, a subnotificação de acidentes é prática corriqueira dos gestores da Transpetro. Isso ocorre há muito tempo e existem relatos em praticamente todas as unidades da empresa. O esquema funciona mais ou menos da seguinte forma: quando um trabalhador sofre um acidente, gestores da empresa privada e da Transpetro assediam o médico que prestou atendimento para que o atestado seja revisto, a fim de que o empregado seja liberado para prestar serviços administrativos. Na prática, serve apenas para o acidente não ser registrado como “afastamento” nos relatórios dos chefes, pois isso impacta nos indicativos de gestão e, por óbvio, nos bônus que os gerentes recebem. É imoral e ilegal.  

 

O Sindipetro Paraná e Santa Catarina segue acompanhando os desdobramentos do acidente e deve participar da comissão de investigação, na qual fará as denúncias cabíveis por mais essa indecência praticada pelo corpo gestor da Tepar. Em qualquer situação de risco, os trabalhadores devem denunciar imediatamente ao Sindicato (denuncia@sindipetroprsc.org.br – 41 3332-4554).