Categoria petroleira protagonizou a luta em defesa da justiça e contra a criminalização do projeto de nação que Lula representa
Davi Macedo – Sindipetro PR e SC
Sábado, 7 de abril de 2018. Um dia marcado para sempre na história do Brasil. Naquela data, Luiz Inácio LULA da Silva iniciava o cumprimento de sua pena após a condenação pelo então juiz Sergio Moro na ação penal sobre o triplex do Guarujá (SP), caso que posteriormente seria reconhecido como uma das maiores farsas do judiciário brasileiro.
Antes de vir a Curitiba, Lula fez um discurso sobre sua trajetória política no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, local que estava tomado por milhares de apoiadores. Disse frases impactantes, que tocaram os corações dos militantes, como “a morte de um combatente não para a revolução” e “eu não sou um ser humano, sou uma ideia. E não adianta tentar acabar com as ideias”. Uma, em especial, direcionada a juízes e promotores, pareceu profecia que viria a se concretizar: “vou provar que foram eles que cometeram crime”.
A pedido da organização, desceu do caminhão de som nos braços do povo e foi amparado por petroleiros e petroleiras até as dependências do Sindicato, de onde se deslocaria rumo ao aeroporto de Congonhas, com destino à capital paranaense.
Lula tentou deixar o local, mas foi impedido pela militância, que gritava a plenos pulmões: “não se entrega”. Somente na segunda investida pôde seguir sua sina.
Não apenas naquele momento, mas até o desfecho, a categoria petroleira teve papel de destaque na defesa do presidente e do projeto de nação que ele representa.
Nesta sexta-feira (07), dia santo, completam-se cinco anos dessa história de luta e resistência que vale muito recordar.
A chegada em Curitiba
Logo no início da tarde daquele fatídico 7 de abril começaram a chegar os primeiros apoiadores de Lula nas proximidades do prédio da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. A primeira barraca a ser levantada ali foi a do Sindipetro Paraná e Santa Catarina. Algo simbólico e que naquele momento ninguém percebeu, mas aquela tenda daria início a um longo movimento que depois foi chamado de “Vigília Lula Livre”.
Ao final do dia, o local já estava tomado pela militância. Trabalhadores de diversas categorias e ativistas dos mais variados movimentos sociais e estudantis se aglomeravam nas ruas próximas à PF. Do outro lado, um pequeno grupo de lavajatistas, trajando a camisa da CBF, tentavam tumultuar o ambiente, covardemente protegidos pelo efetivo policial.
Lula chegou por volta das 22h00. Imediatamente, a força policial avançou violentamente para cima da multidão que tentava ver o presidente mais de perto. Bombas de efeito moral e tiros de bala de borracha foram utilizados pela tropa de choque para dispersar os apoiadores. Muitos ficaram feridos. O povo recuou, mas não abandonou o presidente. Pelo contrário, começava ali uma longa história de resistência popular.
580 dias de luta
Quem chegou a pensar que não haveria luta na liberal e conservadora Curitiba, berço do lavatismo e dos filhos de Januário, se enganou completamente. No dia seguinte, mais e mais pessoas passaram a chegar no Santa Cândida, bairro da sede da PF na capital paranaense. Não apenas da cidade ou da região, mas também de outros estados.
O movimento ganhou corpo e, apesar de toda violência policial e de lavajatistas que tentavam intimidar a militância de Lula, foi se instalando nas proximidades. A Vigília Lula Livre se consolidava. A categoria sempre se fez presente. A petroleira Anacélie Azevedo, que na época era diretora executiva do Sindipetro Paraná e Santa Catarina e secretária de mulheres da CUT Paraná, lembra bem de como era aquele ambiente. “A vigília era um lugar super acolhedor, com uma emoção única e pessoas lulistas, petistas, progressistas, militantes sociais, que estavam ali com muito propósito, muita verdade e muita fé, vamos dizer assim, acreditando que o lado que eles estavam era e é o lado certo da história”, conta.
Se entre a militância o clima era amistoso, por outro lado também houve forte repressão. “Sempre tinha uma afronta policial muito forte. Primeiro levamos bomba, depois na outra semana a gente teve que descer três quarteirões, e assim foi indo, cada vez a gente descia mais quarteirões e muitas violências verdadeiras e simbólicas que a gente sofreu lá”, relembra Anacélie.
Mesmo assim, a Vigília seguia com o seu propósito de apoiar Lula e denunciar ao mundo a farsa que era a sua prisão. Ao mesmo tempo, o movimento também se estruturava. Um lote e uma casa foram alugados para serem utilizados como alojamento e sede de atividades políticas, culturais e de comunicação. “Havia um processo organizativo e uma cooperação muito bonita. Muitas pessoas fizeram doações de alimentos e passavam por lá, inclusive petroleiros e petroleiras daqui e de outras bases. Tinha uma cozinha comunitária para o coletivo, então existia todo um processo de auto-organização, de cooperação e de doação para aquilo acontecesse”, afirma a petroleira.
Bom dia, presidente Lula!
Ao longo dos 580 dias de cárcere, Lula contou com o apoio incessante da Vigília. Todo dia, o pessoal realizava os atos de “Bom Dia”, “Boa Tarde” e “Boa Noite” ao presidente Lula. Por diversas vezes, a categoria petroleira ficou responsável por essas manifestações e muitos companheiros de outras partes do país faziam questão de estar por aqui. A FUP e seus sindicatos filiados passaram a realizar suas atividades organizativas preferencialmente em Curitiba para mostrar o apoio à causa.
Mas não foram só petroleiros. Militantes, políticos e personalidades de todo o país e até do exterior vinham a Curitiba para visitar Lula e participar das manifestações do movimento ali instalado. Entre os mais famosos, destaque para o linguista e filósofo norte-americano Noam Chomsky, o ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, o Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquível, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, o ator norte-americano e ativista de direitos humanos Danny Glover, o escritor e vencedor do Prêmio Camões de Literatura Raduan Nassar, o teólogo e escritor Leonardo Boff, os cantores Martinho da Vila e Chico Buarque, entre tantas outras personalidades que passaram pela Vigília Lula Livre.
Enfim, a Liberdade
Lula deixou a carceragem da Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba no dia 8 de novembro de 2019. A Justiça expediu alvará de soltura, atendendo pedido da defesa, motivada pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que derrubou a execução de pena após condenação em segunda instância.
Assim que saiu da prisão, Lula fez o caminho o contrário daquele 7 de abril de 2018. Discursou na Vigília e partiu para um grande ato no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo.
Mais tarde, Lula teve suas ações penais anuladas pelo STF, que declarou a incompetência da 13ª Vara da Justiça Federal por não se enquadrar no contexto da operação Lava Jato.
A farsa jurídica encabeçada por Moro, Dallagnol e outros filhos de Januário ficou comprovada com os vazamentos da série de reportagens do Portal Intercept Brasil, que expôs várias trocas de mensagens entre o ex-juiz e os procuradores do Ministério Público Federal que atuavam na operação Lava Jato, nas quais ficou evidente a trama para condenar Lula.
Moro conseguiu tirar Lula do pleito presidencial de 2018 e virou ministro da Justiça de Bolsonaro. Saiu do governo de ultradireita denunciando ingerência na Polícia Federal. Não demorou muito, voltou a estar ao lado de Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, só que desta vez não era mais juiz. O resultado dessa história todos já conhecem.
Lula saiu do cárcere para se tornar pela terceira vez o Presidente da República do Brasil.