Os trabalhadores da refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), localizada em Araucária, decidiram suspender a greve em assembleia realizada na tarde desta segunda-feira (10). Os petroleiros da Usina do Xisto, em São Mateus do Sul, deliberaram da mesma forma em reunião feita na manhã de domingo (09).
O movimento havia sido retomado à zero hora de sábado (08) e teve início no dia 30 de junho. A motivação da paralisação são os cortes de postos de trabalho nas unidades operacionais dos parques de refino da Petrobras. A medida foi tomada de forma unilateral pela direção da estatal e descumpre o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) da categoria, que prevê em sua 91ª cláusula a manutenção de um fórum corporativo para discutir com as entidades de representação dos trabalhadores as questões que envolvem o efetivo de pessoal.
Além disso, a redução de postos de trabalho também fere normas da Agência Nacional do Petróleo (ANP). É o caso do regulamento técnico do sistema de gerenciamento da segurança operacional de refinarias de petróleo, que prevê a avaliação das mudanças nos procedimentos, instalações, equipamento ou força de trabalho de forma que os riscos advindos dessas alterações permaneçam em níveis aceitáveis. “Por diversas vezes buscamos junto à gestão das duas refinarias o documento de gerenciamento de mudanças, mas sempre desconversam. A verdade é que não foram feitas essas análises dos riscos com os cortes de postos de trabalho. Os trabalhadores estão muito preocupados com a possiblidade de um acidente ampliado. A sensação é de total insegurança. Com a redução dos efetivos nas unidades operacionais, as refinarias brasileiras se transformaram em bombas relógio prestes a explodir”, alerta Mário Dal Zot, presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina.
Cabe ressaltar que as greves na Repar e Usina do Xisto estão apenas suspensas e podem ser retomadas a qualquer momento, cumprindo-se os prazos legais, conforme deliberação da assembleia realizada em 07 de julho de 2017. As assembleias que estavam previstas para acontecer até quarta-feira (12) na Repar estão canceladas.
Acidentes em série!
Desde quando começaram os cortes de postos de trabalho, há cerca de um mês, foram registrados vários acidentes. Na Replan (SP), a maior refinaria do país, onde a Petrobrás anunciou o corte de 54 trabalhadores das áreas operacionais, o desmonte já causou uma sequência de acidentes desde o último dia 22, quando houve uma explosão em um soprador do Setor de Destilaria. No final de semana, dois trabalhadores do Coque foram atingidos por um vazamento de nafta. Na Rlam (BA), que teve 63 postos de trabalho fechados, foram três acidentes em menos de três dias, sendo que duas ocorrências numa mesma unidade, onde um operador já havia sido queimado durante um vazamento. Na Reduc (RJ), dois trabalhadores foram intoxicados pelo vazamento de gás sulfídrico e quase morreram. Na noite do dia 05 de julho, enquanto acontecia audiência pública sobre os riscos da diminuição dos postos de trabalho na refinaria de Duque de Caxias, um incêndio atingia a U-1240. É a materialização do escárnio dos gestores com a situação de insegurança nas refinarias da Petrobrás.
Um fator que aumenta ainda mais os riscos nas refinarias é o corte nos investimentos na manutenção dos equipamentos. “Contratos de prestação de serviços nas áreas de manutenção das refinarias foram encerrados e houve consequentes demissões de terceirizados. A Petrobras se encontra em patamares semelhantes aos do início dos anos 2000, quando ocorreram graves acidentes, como o vazamento de quatro milhões de litros de petróleo nos rios Barigui e Iguaçu, aqui mesmo em Araucária, e o afundamento da Plataforma P-36. Estamos muito próximos de uma grande tragédia na Companhia”, alertou Dal Zot.