O Congresso objetivou a construção coletiva de uma nova estratégia diante de um cenário ameaçador.
Os tempos mudaram e os desafios atuais são ainda maiores. É preciso coragem para enfrentar este período de retrocessos, iniciado em 2015 com o aumento das dificuldades de negociação sobre as reivindicações da categoria com a Petrobrás, tanto em âmbito local quando nacional. Os gestores da companhia agem de forma predatória contra a Petrobrás, o Brasil e, principalmente, contra os direitos dos trabalhadores. O clima é de tensão em toda a categoria petroleira e precisamos transformá-lo em indignação coletiva, propulsora da nossa luta, talvez a maior de nossa história.
A partir destas observações, petroleiros e petroquímicos se reuniram no último final de semana, dias 03 e 04 de maio, para reforçar a defesa da Petrobrás, dos direitos trabalhistas e da liberdade sindical.
O VI Congresso Regional Unificado do Sindiquímica-PR e do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro PR e SC) apresentou debates propositivos, com o intuito de construir coletivamente uma nova estratégia diante de um cenário ameaçador e sem precedentes desde a ditadura militar.
“Estamos vivendo uma longa batalha desde 2013. Lutamos contra o Golpe e depois contra a lei da terceirização. Lutamos contra a Reforma Trabalhista, lutamos para eleger nosso campo progressiva. Acredito que esse é o momento da gente se reinventar, e o Congresso é uma oportunidade de promovermos um diálogo nesse sentido”, explicou o diretor do Sindiquímica-PR, Santiago da Silva Santos.
Já o presidente do Sindipetro PR e SC, Mário Alberto dal Zot, viu o evento como uma oportunidade de alinhar as estratégias de conscientização da população. “O que eu espero desse Congresso é que possamos fortalecer a luta em defesa da Petrobrás e de tudo que ela significa para o povo brasileiro, desfazendo todas as mentiras e deixando claro para o povo que a gasolina vai subir, porque o que eles querem é um monopólio privado e a formação de cartéis”, salientou Mário.
União e enfrentamento foram palavras de ordem em mesa de abertura
A abertura do evento aconteceu na noite de sexta-feira (3) e contou com a participação de entidades sindicais, movimentos sociais e parlamentares comprometidos com a democracia e com a luta da classe trabalhadora.
Além de Santiago e Dal Zot, a mesa também foi composta pelo coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel; pela coordenadora regional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Daiane Machado; pela presidenta da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT Paraná), Regina Perpétua Cruz; pelo dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Roberto Baggio; pelo coordenador do Sindicato Unificado dos Petroleiros de São Paulo (Sindipetro Unificado) Juliano Deptula; pelo deputado estadual Tadeu Veneri; e pela vereadora de Curitiba professora Josete.
Em todas as manifestações na abertura do Congresso, um sentimento foi predominante: a força e a garra para construir uma reação coletiva e unificada às medidas autoritárias, destrutivas e entreguistas do governo Bolsonaro.
“Nós temos que denunciar os desmandos desse governo enquanto nós ainda temos voz. porque os ataques aos movimentos sociais estão vindo, já que eles sabem que somos nós quem temos forças para lutar contra tudo isso. Eu sou otimista para dizer que nós vamos lutar e vamos vencer. Mas para isso, temos que continuar acreditando nisso. Vamos aproveitar esse Congresso para construir soluções concretas”, afirmou José Maria Rangel.
Debates analisaram conjuntura e desafios futuros
A programação de sábado (4) começou com duas mesas que ofereceram subsídios para que petroleiros e petroquímicos pudessem fazer propostas de intervenções e mobilizações futuras para a luta dos trabalhadores.
O debate Conjuntura econômica regional e nacional abriu os trabalhos, com a participação do economista e supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) Sandro Silva.
Em seguida, o pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (INEEP), Eduardo Costa, apresentou as expectativas para a gestão do setor petroleiro na mesa Estado, Petróleo e Refino hoje.
As apresentações demonstraram a falácia do discurso que defende a guinada ao neoliberalismo como uma saída para fortalecer a economia brasileira. A queda vertiginosa no número de empregos formais – com 1,4 milhão de postos de trabalho fechados nos últimos dois anos – e no número de contribuintes para a Previdência Social, bem como a quantidade alarmante de brasileiros desempregados, refletem o fracasso e a fragilidade do discurso liberal, que apenas sacrifica o patrimônio nacional para enriquecer grupos específicos em detrimento da esmagadora maioria da população.
Já a Petrobrás amargou quatro anos de perdas seguidas até apresentar algum sinal de recuperação no ano passado, que poderia ter rendido ganhos muito maiores se não houvesse o projeto intencional de sucateamento aplicado pelo governo, que pretende rifar no exterior a estrutura da estatal a preço de banana.
Encaminhamentos
Os participantes do Congresso deliberaram algumas estratégias para enfrentar a atual conjuntura e suas consequências devastadoras. Entre os pontos acordados, estão:
– Defender a vida e a segurança dos trabalhadores da Petrobrás – sobretudo porque o Congresso aconteceu na mesma semana em que mais dois petroquímicos perderam a vida enquanto trabalhavam – reivindicando uma política de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) que seja discutida junto à categoria;
– Denunciar os descasos da gestão da Petrobrás à Superintendência do Trabalho e demais órgãos competentes;
– Priorizar a luta contra a privatização e a venda de ativos de estatal, fortalecendo o trabalho de base e focando em grandes campanhas de comunicação e diálogo;
– Trabalhar pela manutenção do atual Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) para preservar todos os direitos dos trabalhadores;
– Oposição incansável à Reforma da Previdência, ao Plano Petros 3 e a qualquer tentativa de desmonte da Previdência Social;
– Mobilização contra a Medida Provisória (MP) 873, que ameaça a liberdade e a autonomia sindical;
– Luta pela manutenção da Assistência Multidisciplinar de Saúde (AMS) para ativos, aposentados e pensionistas do sistema Petrobrás.