Análise da conjuntura econômica subsidia debates do 3º Congresso Regional dos Petroleiros e Petroquímicos

 

 

Após a Solenidade de Abertura, realizada na noite de sexta-feira (03), os trabalhos do 3º Congresso Regional Unificado dos Petroleiros e Petroquímicos do Paraná e Santa Catarina foram retomados na manhã deste sábado (04) com as análises conjunturais sobre a economia. As palestras foram feitas por Sandro Silva, do Escritório Regional do Paraná do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), e Cloviomar Cararine Pereira, da subseção do Dieese na FUP.

 

Coube ao economista do Paraná a análise da macroeconomia. Sandro destacou que apesar do momento de recessão, o cenário da última crise era pior. “Em 2002 o desemprego era mais alto e a renda estava em queda. Naquele período o movimento sindical não brigava por aumento da renda, mas por emprego. Começou a melhorar a partir de 2004, quando a média de crescimento do PIB até 2008 foi de 4,5%. Isso se deve a mudança de ótica no governo, saindo da política do neoliberalismo para utilizar o Estado como indutor do crescimento econômico, fortalecendo o mercado interno”.

 

De acordo com Sandro, o cenário começou a mudar a partir de 2011. “Quando a economia começou a dar sinais de enfraquecimento. Vários fatores influenciaram a desaceleração. Os principais foram a persistência da crise mundial iniciada nos Estados Unidos, queda dos investimentos principalmente na indústria, taxa de juros elevada, taxa de câmbio valorizada, política econômica restritiva, além do que uma parcela expressiva do consumo foi suprimida pelas importações”, disse.

 

O cenário político conturbado, segundo Sandro, agravou profundamente a situação econômica do país. “Após uma eleição presidencial acirrada veio a eleição de Cunha no Congresso e, consequentemente, a paralisia das ações do governo federal. Ainda tivemos os impactos da Lava Jato no setor da construção. Aliado a isso, o problema da lógica perversa do mercado financeiro, que se existirem taxas de juros altas há redução em produção e se aplicam os recursos nos bancos para ter uma maior rentabilidade. A chamada especulação do mercado financeiro. A crise econômica é a junção de todos esses fatores”, afirmou.  

 

Ainda de acordo com Sandro, a economia brasileira dá sinais de reação. “Indicadores apontam que o pior da crise já passou, mas ainda há muitas incertezas. O problema é que o governo interino está sinalizando com ações que vão na lógica do que foi feito em alguns países da Europa e prolongam a crise por lá, como as reformas previdenciária e trabalhista e a limitação dos gastos públicos vinculados à taxa da inflação. Tudo vai depender das medidas que o governo vai adotar”.

 

Negociações coletivas

O economista do escritório do Dieese no Paraná trouxe os dados sobre as negociações coletivas. “No início de 2015, 90% das categoria conquistaram ganho real. Isso foi piorando durante o ano. Entre as categorias com data-base em dezembro de 2015, 40% sequer conseguiram repor a inflação. Os resultados de 2016 até agora reforçam o cenário de incertezas. Das 105 negociações monitoradas pelo Dieese, metade não conseguiu recuperar a inflação. Apenas 27,6% obtiveram reajuste igual à inflação e 24,6% conquistaram índice de recomposição superior. Acredito que o pior do cenária econômico já passou e as negociações salariais a partir de agora devem melhorar. Sobre a inflação deste ano, em maio fechou com 9,3% e a estimativa para setembro, na data-base dos petroleiros, é de 8,64”.

 

Conjuntura da Petrobrás

O economista Cloviomar Cararine Pereira, da subseção do Dieese na FUP, discorreu sobre o cenário econômico da Petrobrás. Ele apontou a situação difícil que todo o setor petróleo no mundo atravessa. “O barril de petróleo chegou a custar US$ 150. A média do preço nos três primeiros meses foi de US$ 33. Atualmente está em torno de US$ 50, apresenta um movimento de subida, mas enfrenta uma fase de instabilidade. Existe uma disputa entre produtores e consumidores pelo preço. Essa queda tem um impacto muito forte nos resultados da Petrobrás e também de outras empresas, que também reduziram investimento”.  

 

Um agravante para os resultados da estatal, segundo o economista, é a crise econômica nacional. “O grande negócio da Petrobrás é vender combustíveis no Brasil. Se o mercado interno está desaquecendo, vende-se menos combustível e a empresa sofre o impacto. Ainda afetam os resultados a taxa alta de juros, pois se se os juros sobem há menos investimentos. O câmbio também é fundamental, uma vez que grande parte do custo é em dólar e o combustível é vendido em real. Também afeta a dívida da empresa, pois 70% dela é em dólar”, esclareceu Cloviomar.

 

Endividamento e PNG

Para o economista, os problemas de caixa da Petrobrás aumentaram de 2012 a 2014. “Neste período houve defasagem do preço externo e interno e a empresa comprava combustível mais caro lá fora e vendia mais barato. Uma política governamental de represar preços e o combustível fez parte dessa estratégia. A alavancagem da dívida também se deve à redução do consumo de combustível e consequentemente do caixa, as operações financeiras mais caras e aos atrasos nas entregas dos fornecedores”.

 

A dívida, segundo Cloviomar, passou a ser o foco do Plano de Negócios e Gestão (PNG) 2015 – 2019 da Petrobrás. “Além disso, mudou o objetivo da empresa. Passou a colocar como prioridade a geração de lucro aos acionistas e deixa de focar nas atividades produtivas e as relações com os diversos públicos de interesse da companhia, como fornecedores, política de conteúdo nacional, consumidores, acionistas e os trabalhadores.  O novo objetivo é a geração de caixa e isso se desdobra em redução dos custos administrativos, do número de funcionários próprios e terceirizados. Agora, com o governo interino e a chegada de Pedro Parente à Presidência da Petrobrás, é possível que a situação fique ainda pior”,  

 

O economista revelou os números da dívida da Petrobrás. Segundo os dados apresentados, atualmente a dívida total é de R$ 450 bilhões. Já a dívida líquida tem o montante de R$ 369 bilhões. “50% da dívida vence até 2019. A fase mais crítica para o pagamento é entre 2017 e 2019”

 

 

GT da Pauta pelo Brasil

Cloviomar apresentou as proposições finais da FUP para o Grupo de Trabalho da Pauta pelo Brasil. O documento afirma que para redução do endividamento e retorno do investimentos fica muito clara a necessidade de maior intervenção do governo federal (acionista majoritário).

 

Para a FUP, as medidas a serem tomadas pela Petrobrás devem ser as seguintes:

– Não redução dos investimentos da empresa;

– Reduzir o endividamento de curto prazo:

– Alongar as dívidas;

– Utilizar produtos como financiador;

– Manutenção dos preços dos derivados de petróleo;

– Suspender programa de desinvestimentos (venda de ativos).

 

Medidas a serem tomadas pelo Governo Federal:

– Revisar o contrato da cessão onerosa e rediscutir o bônus de assinatura do excedente;

– Securitizar a dívida entre a Eletrobrás e a Petrobrás;

– Aportes do governo federal:

– Via utilização das reservas internacionais;

– Via projeto do senador roberto Requião – recursos do BNDES;

– Na forma de instrumento híbrido de capital e dívida.

 

 

Proposições do Congresso

As exposições dos economistas do Dieese subsidiaram os debates da parte da tarde, na qual os delegados formularão as propostas para o Termo Aditivo ao ACT 2015 – 2017 que serão levadas à 6ª Plenária Nacional da FUP.