Live União Solidária: categoria petroleira é convocada a ajudar carrinheiros

“Artistas Por um Novo Amanhecer” arrecada recursos para a construção de barracões para catadores de materiais recicláveis de Curitiba

 
Para levantar fundos para a construção de três barracões na Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Novo Amanhecer, localizada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), diversos artistas se somaram à live “Artistas Por um Novo Amanhecer”, organizada pela União Solidária, que irá ocorrer nesta quinta-feira (07), às 18h, com transmissão ao vivo através dos canais do Youtube e Facebook do APP-Sindicato.   

A meta da campanha, que vai até o dia 16 de outubro, é arrecadar cerca R$ 28 mil necessários para as estruturas que irão proporcionar um local coberto para a separação e armazenagem dos recicláveis. O objetivo é contribuir com a melhora das condições de trabalho dos catadores que dependem da reciclagem para garantir o seu sustento.

“Esse barracão pronto vai beneficiar os 40 associados, que já vão trabalhar um pouquinho melhor, já que não vão trabalhar na chuva, no sol. Estamos dando graças a Deus que logo deve sair essa construção”, garante Antonio de Jesus, carrinheiro e presidente da associação.  

 

Foto: Ednubia Ghisi  

A campanha está mobilizando doações individuais, de sindicatos, entidades, movimentos sociais e pastorais que já fazem parte da União Solidária. O valor total da obra é de R$ 40 mil, no entanto, R$ 12 mil já estão garantidos pela própria associação. Apesar da baixa renda das famílias sócias, a economia é fruto da organização coletiva ao longo dos últimos anos, em busca do sonho de erguer essas novas estruturas.

A obra vai aliviar uma dura rotina de trabalho, ainda mais desafiadora durante a pandemia da Covid-19. A quantidade de material reduziu, o número de pessoas buscando os recicláveis aumentou, e houve períodos de queda nos preços da sucata e do papelão, o que prejudicou ainda mais a renda dos catadores. “Como o Brasil está em crise, o trabalho garante o básico pra comer. É a renda pra gente sobreviver”, afirma a vice-presidenta da associação, Juliana da Silva Santos.

Apesar de serem os principais responsáveis pela reciclagem do imenso volume de materiais descartados na capital, os catadores enfrentam condições precárias de trabalho, sem amparo de políticas públicas.

Como doar
As doações irão direto para a conta da Associação Novo Amanhecer, que tem mecanismo coletivo de acompanhamento.
PIX: CNPJ / 05.685.690/0001-83
Caixa Econômica Federal
Agência: 2204
Conta corrente PJ: 003
Número da Conta: 00000399-8
 

Campo e cidade em mutirão  
O recurso arrecadado pela campanha vai garantir a compra do material para a construção. Um gasto a menos será com as toras de eucalipto que servirão de pilares para os barracões, doadas por famílias do MST do assentamento Contestado, da Lapa. Os caminhões com a madeira chegaram na Associação em setembro, e marcaram o início dos mutirões de trabalho.

Já a mão-de-obra é toda voluntária e conta com o reforço de um grupo de camponeses mestres-de-obra do acampamento do MST Maila Sabrina, de Ortigueira. Junto com eles, se somam os próprios associadas no Novo Amanhecer, militantes da União Solidária e pessoas apoiadoras que moram na região.  

 

        Mutirão para descarregar as toras de eucalipto doadas pelo assentamento Contestado, da Lapa.                   Foto: Ednubia Ghisi                      
  

15 anos de gestão coletiva
A Associação de Catadores Novo Amanhecer é um exemplo da força da organização popular dos catadores, com apoio de entidades e militantes voluntários. O coletivo tem 15 anos de história, com conquistas como a ocupação do terreno da associação, a aquisição de balança e prensas, e a estruturação de uma cozinha comunitária.

O feriado de 7 de setembro de 2006 é o marco de fundação do grupo, quando os trabalhadores da reciclagem ocuparam um terreno abandonado para garantir local de armazenagem e separação do material coletado. O lugar é a atual sede da associação. “Essa área significa tudo pra nós”, resume a vice-presidenta, Juliana. Dos cerca de 40 catadores que fazem parte da Associação, a maior parte são mulheres.

 

Juliana da Silva Santos, vice-presidenta da Associação. – Foto: Ednubia Ghisi  

A remuneração desses trabalhadores depende da quantidade de materiais que cada um consegue reunir por semana. Depois de separado, os recicláveis são pesados e prensados, os dados vão para uma ficha de papel, e depois para uma planilha no computador. Os números são confirmados por um militante voluntário que faz os cálculos dos valores a serem pagos a cada trabalhador.

A gestão é coletiva e transparente, como explica Antonio de Jesus: “A gente tem total transparência. Cada associado também às vezes traz um caderninho, anota para pode ter uma base de quanto vai tirar para poder ir se programando”.

A cozinha comunitária ocupa boa parte da atual estrutura coberta da associação, e garante refeições a R$ 1,50 para os associados, e a R$ 2,50 para familiares. O valor é destinado para o pagamento de uma cozinheira que prepara o café da manhã, almoço e café da tarde, de segunda a sexta-feira. É a garantia de refeições com qualidade, para quem passa o dia fora de casa, em longas jornadas de trabalho.

A gestão de Rafael Greca à frente da prefeitura de Curitiba dificultou ainda mais a vida das famílias carrinheiras. Anteriormente, a Associação recebia cerca de 7 toneladas por mês de materiais recolhidos pelos caminhões do “lixo que não é lixo”. A venda deste material assegurava o pagamento das despesas coletivas.

Agora, todos os gastos precisam ser custeados pelos próprios catadores. Do valor ganho por cada trabalhador, 10% é destinado ao pagamento das faturas de água e luz, além dos alimentos para a cozinha comunitária – todos itens que sofreram grande alta de preços no último período. Este valor também garante o pagamento de duas pessoas para a pesagem e a prensa do material.

União Solidária
A União Solidária realiza ações de ajuda humanitária em comunidades carentes de Curitiba e região, desde junho de 2020, como resposta a este período de agravamento da fome e do desemprego no país.

O coletivo é formado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro PR/SC); APP Sindicato estadual e Núcleo Curitiba Sul; Coletivo Marmitas da Terra; Centro Comunitário padre Miguel (Cecopam); Produtos da Terra; A Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR); pastorais e Dimensão Social da Arquidiocese, além de outros sindicatos, entidades e coletivos urbanos.

 

Por Ednubia Ghisi (MST-PR) – Edição: Imprensa Sindipetro PR e SC