“Nesses próximos dois anos podemos chegar ao ponto de termos um enfrentamento mais crítico”

Entrevista: Deyvid Bacelar, conselheiro de administração da Petrobrás eleito pelos trabalhadores, fala sobre PLR, gestão Bendine e correlação de forças no CA. Confira!

O conselheiro de administração da Petrobrás eleito pelos empregados, Deyvid Bacelar, esteve em Curitiba no dia 21 de maio para participar da abertura do 2º Congresso Unificados dos Petroleiros e Petroquímicos do Paraná e Santa Catarina. Há poucas semanas no cargo, Bacelar já tem consciência dos desafios e estratégias de luta em prol dos trabalhadores no C.A. Na entrevista a seguir, ele fala sobre a atuação no Conselho, os primeiros meses da gestão do novo presidente da companhia e a participação nos resultados.

Como você avalia a correlação de forças no Conselho de Administração da Petrobrás?
Deyvid – Os trabalhadores petroleiros têm apenas uma vaga no Conselho, para a qual eu fui eleito democraticamente. Até o momento tivemos apenas uma reunião e o sentimento que eu tive é de que ali não é um espaço onde possamos fazer a disputa porque não há força suficiente com apenas uma cadeira. Nosso papel é de fazer intervenções e coletar informações para preparar as estratégias de luta no campo sindical, junto com a FUP e os sindicatos.

O presidente da Petrobrás anunciou que pretende equiparar o valor dos combustíveis ao preço praticado no mercado internacional. O que você pensa sobre isso?
Deyvid – De 2011 a 2013 a empresa conseguiu subsidiar o preço dos combustíveis e sofreu uma perda de cerca de R$ 70 bilhões por conta deste controle. Tanto que na época o Gabrielle, baiano e professor da UFBA, que era presidente da empresa, foi contrário a isso, mas o Governo Federal achou que era necessário por conta do controle da inflação. É um papel que o Governo, por ser acionista majoritário, tem o direito de exercer. O problema é que isso atinge diretamente os interesses dos acionistas minoritários. Devido a isso houve o início do massacre à empresa, onde as ações começaram a cair. Ocorreu esse jogo dos especuladores do mercado do capital a partir dali, porque essa posição do Governo de comandar inteiramente a Petrobrás e utilizá-la como instrumento para controle da economia brasileira não satisfaz de forma alguma os acionistas. Então quando o (Aldemir) Bendine declara isso, por ser profissional do mercado financeiro (ele era o presidente do Banco do Brasil) quer passar a mensagem de que a empresa não vai mais ser usada para o controle inflacionário aos investidores e ao mercado. Parece que a escolha dele para o cargo de presidente da Petrobrás foi neste sentido. Não se colocou alguém da área de indústria, nem funcionário de carreira da empresa, como era a Graça Foster. Puseram uma pessoa do mercado para acalmar os ânimos dos investidores. Aí ele vem com uma declaração neste sentido, mas o problema não é só o preço dos combustíveis variar conforme o mercado internacional. O problema é que outras declarações que ele já fez evidenciam que a empresa vai dar uma guinada ruim, principalmente para a classe trabalhadora e a categoria petroleira. Uma preocupação é que na última reunião do Conselho Deliberativo da Petrobrás eu não percebi muito, não somente dele, mas principalmente dos outros conselheiros, com relação às empresas que prestam serviços à Petrobrás. As punições que está sendo dadas as 27 empresas que estão envolvidas na Operação Lava Jato tem prejudicado a Petrobrás e o Brasil. Até o momento não vimos uma sinalização além do acordo de leniência, que não está saindo. Apenas duas empresas foram contempladas, as outras creio ser muito difícil aceitarem esse acordo. Isso traz repercussão negativa, porque se não for resolvido isso, nós vamos ter plataformas, navios e grandes obras aqui no Brasil sendo executadas por empresas estrangeiras, talvez menos capacitadas, e que não movimentam a economia local.

Qual avaliação você faz dos primeiros meses da gestão do Bendine?
Deyvid – Os sinais são claros. Até o momento não houve uma abertura para um diálogo mais próximo com o movimento sindical. Isso nos preocupa. O companheiro Zé Maria, que é o coordenador da FUP, já solicitou essa reunião algumas vezes e até o momento não ocorreu. Teve uma data marcada, mas foi adiada. Apesar desse tempo que ele está na presidência da companhia, não foi feito nenhum gesto de aproximação com o movimento sindical. Os companheiros bancários já tinham nos avisado sobre esse distanciamento que ele prefere ter com os sindicatos; mas, além disso, a gente vê ações que demonstram que vai ocorrer um embate grande com a categoria petroleira e as suas entidades de representação. Um alerta que fazemos nos espaços em que visitamos os petroleiros é de que nesses próximos dois anos podemos chegar ao ponto de termos um enfrentamento mais crítico para evitar desinvestimentos em áreas estratégicas da empresa ou, como ele disse, investimentos direcionados apenas para a área de exploração e produção; redução de custos, um afirmação sempre presente nas declarações dele na mídia e que no final das contas sobra para os trabalhadores. Esse pouco tempo de gestão tem nos dado sinalizações preocupantes e com certeza quando o plano de negócios for apresentado vai deixar mais claro esse pacote que está sendo formulado.

Existe alguma novidade sobre o pagamento da Participação nos Resultados?
Deivyd – A única novidade foi de que ocorreu a assembleia extraordinária dos acionistas do dia 25 de maio e o balanço de 2014 foi aprovado, que já foi amplamente divulgado. A Pwc (Price Waterhouse and Coopers), empresa que auditou o balanço, não apresentou restrições. Agora aguardamos a divulgação da data de pagamento da Participação nos Resultados. O próprio Bendine, na apresentação que foi feita para a categoria via TV Web, já disse isso. Um companheiro petroleiro fez a pergunta ao vivo e ele respondeu que acordo é para ser cumprido. Então o acordo do regramento da PLR será respeitado. É bom salientar aos petroleiros que só teremos essa participação nos resultados porque a FUP e seus sindicatos construíram esse acordo e a categoria foi sensata em aprova-lo com mais de 70% de aceitação nas assembleias realizadas por todo o país. A categoria e os sindicatos fupistas estão de parabéns, porque se não fosse essa clareza na construção do acordo nós teríamos a certeza de que não receberíamos qualquer verba mediante a divulgação do prejuízo da empresa em 2014.